Armar a população não foi, não é, e não será o caminho para construir uma sociedade mais segura. Isso está dito por cientistas sociais, especialistas em segurança pública e, recentemente, foi demonstrado em números no Atlas da Violência 2019. Com o título A escalada da violência armada no Brasil desde 1980 e o freio ao aumento das mortes imposto pelo Estatuto do Desarmamento, o documento traça a evolução dos homicídios por arma de fogo no país antes e depois do Estatuto.
O Atlas revela que, antes do Estatuto do Desarmamento, a taxa de assassinatos no Brasil crescia a um ritmo de 5,44% ao ano. A partir de 2003, com a restrição do acesso às armas, esse índice ficou em 0,85% ao ano. Mas restringir o acesso às armas não é o único caminho. Uma sociedade menos violenta passa, também, por investimentos em educação.
Pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Daniel Cerqueira, doutor em economia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), escreveu sobre o poder da educação na redução da criminalidade no artigo Trajetórias Individuais, Criminalidade e o Papel da Educação, publicado em 2016, pelo Ipea. Segundo o autor, de modo geral, as melhores escolas se concentram nas regiões mais ricas. E as instituições com os piores desempenhos estão nas periferias, justamente onde os índices de criminalidade são maiores e a juventude está mais exposta, tanto aos autores de violência, quanto pela falta de acesso à cultura e ao lazer.
No mesmo ano, Daniel foi o autor da nota técnica Indicadores Multidimensionais de Educação e Homicídios nos Territórios Focalizados pelo Pacto Nacional pela Redução de Homicídios. A principal conclusão dessa nota foi a de que para cada 1% a mais de jovens entre 15 e 17 anos na escola, há uma redução de 2% na taxa de assassinatos nos municípios.
O problema é que, no Brasil, manter os jovens em sala de aula continua sendo um desafio. Isso acontece, em parte, porque as instituições de ensino não acompanharam, por várias razões, as transformações socioculturais e econômicas. Muitas das escolas não conseguem enxergar o jovem como indivíduo, nem possuem programas pedagógicos capazes de acolher, envolver e preparar essa geração para a vida adulta. A depender das decisões dos últimos anos ; entre elas o congelamento dos gastos para o setor ; o Brasil vai regredir e negligenciar ainda mais esses jovens.