Jornal Correio Braziliense

Opinião

Desinteresse verde-amarelo

Em um dia de greve geral convocada por sindicatos para protestar contra a reforma da Previdência do governo Bolsonaro, terá início hoje à noite mais uma Copa América de futebol em estádios brasileiros. A última vez que o país sediou a competição foi em 1989, às vésperas da primeira eleição presidencial direta pós-ditadura. O Brasil vivia uma época de grandes surtos inflacionários, marcada pela troca constante da moeda e arrocho salarial.

Criticada no início da campanha de 30 anos atrás, a Seleção Brasileira, comandada por Sebastião Lazaroni, embalou na reta final do torneio e acabou campeã da Copa América, com um gol de Romário na partida decisiva contra o Uruguai. O título serviu para fazer as pazes com a torcida que, apesar de desconfiada com a equipe, lotou bares e estádios para acompanhar as partidas. Um cenário que hoje, no início da competição, mostra-se bem diferente.

Nas ruas, há um clima de desinteresse com a Copa América. Muita gente que gosta de futebol sabe muito pouco sobre as 26 partidas que serão disputadas até 7 de julho. Nada de carros com bandeirolas circulando por aí. Nos bares, poucos optaram por uma decoração verde-amarela. Sinal de desprestígio do escrete de Tite.

O risco de os estádios ficarem vazios, como nos amistosos preparatórios, é real. Segundo dados oficiais do Comitê Organizador da Copa América, pouco mais de 65% dos ingressos foram vendidos até agora. Há, no entanto, partidas com menos de 5 mil entradas comercializadas ; é o caso Equador x Japão, sim, não há apenas seleções sul-americanas no torneio. O Catar, que sediará a Copa do Mundo de 2022, é o outro convidado. Uma esquisitice que a Conmenbol, confederação responsável pela organização, passou a adotar desde 1993.

Explicações para o desinteresse são várias. Uma é o nível do futebol sul-americano, que não ganha nada de relevante há muito tempo. Outra é o excesso de grande eventos no Brasil nos últimos seis anos (Copa das Confederações, Copa do Mundo e Olimpíadas), sendo a Copa América o mais chinfrim deles. E uma terceira é o excesso de confusões que o principal jogador brasileiro, Neymar, tem se envolvido recentemente. Sem ele no time, aliás, ficou muito fácil para muita gente torcer pela Seleção. E há ainda a disputa do Mundial de Futebol Feminino, na França, que atrai muitas atenções. É fato: a Copa América não pegou. Por enquanto?