Será que agora vai?
Um dia depois da passagem da Seleção Brasileira por Brasília, a Agência de Desenvolvimento de Brasília (Terracap) anunciou o resultado da licitação para a exploração pela iniciativa privada da Arenaplex, um complexo esportivo-cultural que inclui o Estádio Nacional Mané Garrincha, o Ginásio Nilson Nelson e o complexo aquático Cláudio Coutinho. A concessão ao consórcio BsB Boulevard Show de Bola, o único interessado, será por 35 anos e deve render R$ 5 milhões fixos por ano ao GDF, mais o repasse de 5% do faturamento líquido.
Reinaugurado em maio de 2013, depois de 1.027 dias de reforma, o Mané Garrincha sempre passa a impressão de que falta algo. Durante a Copa do Mundo de 2014, para atender aos padrões da Fifa, até que funcionou a contento, mas bastou o Mundial de futebol acabar para que os problemas começassem a aparecer. A área externa, por exemplo, é de enrubescer qualquer brasiliense que leve um visitante para conhecer o estádio. Asfalto danificado, acessos complicados e barro em vez de áreas verdes são uma regra no local.
Apelidado de ;elefante dourado; pelo então presidente da CBF, José Maria Marin, banido do futebol e preso nos EUA por corrupção, o Mané Garrincha também apresenta problemas internamente. No amistoso da última quarta-feira, o público sofreu com a falta de opções. Os bares, por exemplo, trabalhavam com cardápio reduzido: pipoca (R$ 10), cachorro-quente (R$ 10) e snacks industrializados (de R$ 6 a R$ 12) ; o mesmo formato que era vendido nos estádios brasileiros nos anos 1980. Quem dera se tivéssemos praças de alimentação como as existentes no Maracanã e no Itaquerão, também utilizados na Copa de 2014.
Os prejuízos provocados à sociedade brasiliense com a reforma bilionária do Mané Garrincha jamais serão devidamente reparados. O superfaturamento identificado pelos órgãos de controle e pela Polícia Federal traduz-se em roubo de dinheiro público, afinal a verba poderia ter sido utilizada para o bem comum, como obras de saneamento, investimentos em saúde e segurança e reforma de escolas. Empreitadas que fariam a diferença no dia a dia da população.
O consórcio vencedor planeja investir R$ 700 milhões na modernização do espaço. Como o dinheiro público gasto no Mané Garrincha já escorreu pelo ralo, quem sabe, nas mãos da iniciativa privada, o complexo comece a dar algum retorno à população, com shows mais frequentes de artistas estrangeiros (para que os fãs não precisem se deslocar para o Rio de Janeiro ou São Paulo, praças tradicionais dos megaespetáculos) ou outras opções de lazer, como cinema e bares. Será que agora vai?