Jornal Correio Braziliense

Opinião

Sr. Redator

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Vergonha

Tenho vergonha da Justiça brasileira. Na semana passada, uma menina de sete anos foi morta pela tia, uma ;mulher; de 17 anos, e o namorado dela, de 19. A eles foi dada a responsabilidade de cuidar de quatro crianças (1,3, 7 e 9 anos). Como nossa Justiça é cega e burra! Desculpe-me, os termos são resultado de minha indignação. Logo, esse acontecimento nos leva a algumas indagações. Onde estava com a cabeça os autores dessa barbárie? Para mim, a ;mulher; de 17 anos e o namorado dela não agiram sozinhos. O Sistema de Proteção da Criança e do Adolescente é, no mínimo, se não coautor, cúmplice. Onde estava o Conselho Tutelar? Onde estava a Vara da Infância e da Juventude? Onde estava a escola? Onde estavam os vizinhos? Onde estavam as Igrejas com suas ações sociais? Onde estava a Sociedade Civil Organizada? Onde estavam as ONGs? Onde estava o governo, com todos os seus braços? Fomos incompetentes e matamos, em conjunto, por omissão, uma menina de sete anos. Esse caso nos faz lembrar de outro: ;O juiz Marcelo Bretas, da 7; Vara Criminal Federal do Rio, liberou a ex-primeira-dama do Rio Adriana Ancelmo da prisão domiciliar. Ela poderá sair durante o dia, mediante uso de tornozeleira eletrônica, e terá que se recolher em casa durante as noites e aos finais de semana. O que faltou para a mãe da menina de sete anos que morreu? Faltou-lhe dinheiro. O dinheiro da corrupção permitiu à advogada Adriana Ancelmo ficar em prisão domiciliar. Esse mesmo dinheiro faltou para a mãe da menina de sete anos, que está presa por tráfico de drogas e não pôde garantir a segurança e a vida de seus filhos. Tenho vergonha do Sistema Judiciário brasileiro, tenho vergonha de nós, sociedade brasileira.
; Joel Aguiar, Brasília

Presidência

A língua de Bolsonaro continua destrambelhada. Não se contém. Não segura a onda. Despeja sandices e bobagens sem tréguas e freios. Depois dos gracejos toscos com a sexualidade dos japoneses, Bolsonaro cria e grotesca polêmica. Defendeu um ministro evangélico para o STF. A Suprema Corte não é feita de fé nem de religião. Queremos um presidente otimista, alegre e operoso. Jamais um chefe de governo que não perde a chance de virar piada com as próprias asneiras que diz.
; Vicente Limongi Netto, Lago Sul

Pacto

Bastaram os brasileiros se manifestarem em apoio ao governo Bolsonaro e às reformas por ele propostas, para os figurões da República, emparedados, se apresentarem como apoiadores do Brasil e descerem dos seus pedestais. Maia despiu-se da sua arrogância e birra pueris de quem tentou desclassificar Sérgio Moro, chamando-o de ;empregado do Bolsonaro; e ladeou Alcolumbre e Toffoli para, juntos, se credenciarem a mosqueteiros das reformas. Ganhou até contornos de seriedade o tal ;pacto; aventado pelos mesmos que, dias antes, franziam as testas a tudo que Bolsonaro e seus ministros defendiam. Até o relator da reforma da Previdência, que havia esnobado Paulo Guedes, afirmando que o Congresso faria a reforma com ou sem o ministro, mudou diametralmente seu discurso. Passados alguns dias das manifestações, cabem alguns questionamentos. O Judiciário abrirá mão da gastança, dos penduricalhos e de seus regalos à base de lagostas regadas a vinhos premiados? Parlamentares deixarão de passear com dinheiro público para passarem três dias por semana em Brasília em um Congresso improdutivo e gastão? Funcionários públicos prestarão serviços de qualidade aos brasileiros sob pena de serem demitidos por incompetência com o fim da famigerada estabilidade? Órgãos e estatais inúteis ; cabides de emprego ; serão extintos? O teto constitucional será rebaixado ao que seria razoável pagar pelos serviços medíocres prestados aos brasileiros? Sem essas e inúmeras outras providências, o pacto anunciado é balela. O pacto que nós, contribuintes, sonhamos só se efetivará quando desapearmos o Estado perdulário dos nossos lombos. De resto, o que há é colóquio para ninar ruminante, traduzindo: conversa pra boi dormir.
; Natanael Paulino, Águas Claras

Ganância

Percebe-se, claramente, que a insensibilidade, o egoísmo, a ganância e o individualismo chegaram a tal ponto, que o relacionamento humano tornou-se espantosamente crítico, para não dizer impossível. O amor, a amizade, o companheirismo, a solidariedade e o respeito humano estão desaparecendo de nossa convivência. A própria família ruiu, e não há mais sentimento nem afetividade. Em meio a uma competição brutal, as pessoas tornaram-se robôs e reféns dos eletrônicos (smartphones, tablets). O homem virou coisa e comporta-se como coisa. Envenenados pelo pragmatismo e pelo consumismo desvairado, assistimos, no mundo contemporâneo, ao espetáculo sinistro das guerras bestiais e sem nenhum sentido. Enquanto isso, as drogas, a criminalidade, o terrorismo, o fanatismo e a sexualidade neurótica e promíscua vão fazendo suas vítimas. Na fúria incontida, em busca de riqueza, vamos destruindo a natureza, mas a riqueza fica nas mãos de poucos, e a miséria e o desemprego cresce em progressão geométrica. Então, em nome de uma suposta modernidade na gestão pessoal, o que estamos construindo, com a riqueza de poucos e a carência de muitos, é uma sociedade de perversos que já nos assombram com seus crimes hediondos. Por outro lado, os conceitos de democracia, de justiça, de integridade e dignidade tornaram-se vazios, ocos e já não nos dizem nada. Todas as utopias políticas até aqui tentadas fracassaram e não passaram de farsas e despotismos, oprimindo os mais pobres.
; Renato Mendes Prestes, Águas Claras