Jornal Correio Braziliense

Opinião

Direito individual, dever coletivo

Se pudermos listar três objetivos básicos da vida de qualquer ser humano do planeta, provavelmente os mais citados seriam encontrar a felicidade, evitar doenças e adiar a morte. Se, sob vários aspectos, a felicidade é relativa, saúde e finitude são, por outro lado, absolutas. Por que motivo, então, um ser humano se recusaria a evitar a própria morte ou a de um ente querido? Como explicar a opção de abrir mão de proteção gratuita contra uma doença? Difícil compreender.

A partir de hoje, as doses remanescentes da vacina contra a gripe deverão ficar disponíveis para toda a população, conforme recomendou, na última quinta-feira, o Ministério da Saúde. A decisão veio com o balanço final da campanha nacional de vacinação, que apontou a imunização de 80% do público-alvo prioritário, formado por idosos, crianças, profissionais da saúde e da educação, entre outros.

O grande interesse pela ampliação da oferta deve levar muitas pessoas aos postos de saúde, afinal, embora pareça enfermidade leve, a gripe mata, em média, 900 pessoas por ano no Brasil, segundo dados da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm). A campanha de imunização precede anualmente o inverno e tenta evitar essas mortes, mas precisa contar com a adesão da população.

Embora o foco esteja na gripe, é bom lembrar que a ida ao posto de saúde é uma excelente oportunidade para colocar em dia ; ou pelo menos agendar ; outras vacinas disponíveis no Programa Nacional de Imunizações (PNI). Embora a maioria das vacinas do programa seja destinada às crianças, há doses com foco em adolescentes, adultos, idosos, gestantes e povos indígenas. A rotina de imunização no Brasil disponibiliza, atualmente, 19 vacinas ; um dos maiores programas públicos do mundo.

Infelizmente, boatos e notícias falsas influenciam negativamente as campanhas, questionando a eficácia das vacinas e sugerindo que a imunização pode causar doenças. Há críticas, inclusive, sobre o que seria um excesso de vacinas ofertadas, além do temor das reações adversas, como febre baixa e dor localizada. A verdade irrefutável, contudo, é que cada pessoa que deixa de se vacinar coloca em risco a própria vida e a de todos que estão ao seu redor, além de abrir a possibilidade de demandar, no futuro, junto ao serviço público de saúde, recursos que poderiam salvar outras vidas.

Segundo o Ministério da Saúde, 96% das vacinas fornecidas no Brasil hoje são produzidas em território nacional, atendendo a processos seguros e certificados, e apenas 4% vêm do exterior. Qualquer questionamento quanto à confiabilidade das vacinas gratuitas oferecidas no país coloca em xeque a eficácia de um sistema complexo, cujo objetivo principal é salvar vidas. Nessa medida, a recusa à imunização é decisão imprudente e socialmente irresponsável. Se proteger-se é um direito, garantir a saúde do próximo não deixa de ser um dever coletivo. Prevenir, afinal, é bem melhor que remediar.