Jornal Correio Braziliense

Opinião

As travas da desconfiança

Um dia depois de divulgar que a economia brasileira registrou retração de 0,2% no primeiro trimestre do ano, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) deu outra péssima notícia: o desemprego aumentou e já atinge 13,2 milhões de pessoas. Não bastasse esse contingente sem trabalho, mais de 28 milhões de brasileiros estão subempregados. Ou seja, não ganham o suficiente para bancar despesas básicas.

Tais indicadores explicitam o alerta: o Brasil precisa urgentemente voltar a crescer. Não pode mais o governo e o Congresso fugirem de suas responsabilidades. Desde 2014, o país vem tentando, sem sucesso, retomar os trilhos do desenvolvimento. Mas uma sucessão de crises tem abortado todas as possibilidades de reação. Se nada for feito, além de 2019 já ser dado como perdido, também não haverá recuperação em 2020.

A situação é dramática. Muito se falou dos anos de 1980, apontados como década perdida. Mas o pior período da história para a economia brasileira será o compreendido entre 2011 e 2020. Na média, o Brasil terá crescido menos de 1% ao ano. Não há país que resista tanto tempo metido nesse atoleiro. Não por acaso, assistimos, atônitos, à desestruturação dos lares, ao aumento da violência, à degradação do sistema de segurança, à precariedade da saúde e à ineficiência da educação.

De nada adiantará promessas de prosperidade baseadas apenas na aprovação da reforma da Previdência pelo Congresso. Sim, as mudanças nos sistemas de pensões e aposentadorias são vitais, para dar sustentabilidade às contas públicas, mas será preciso muito mais. O Brasil terá que se reinventar, aumentar a eficiência e a produtividade, eleger a educação como prioridade, não como obrigação. Da forma como o país está estruturado hoje, só há um caminho: o fracasso como nação.

Governo e Congresso precisam trabalhar em sintonia para que a previsibilidade volte ao horizonte. É sabido que muitas empresas estão capitalizadas, prontas para investirem no aumento da produção e na contratação de mão de obra. Mas há a trava da desconfiança. Quando olham para a frente, os agentes econômicos não se sentem confortáveis para tirar projetos da gaveta. Temem, não sem razão, que os investimentos virem pó. Dinheiro não aceita desaforo.

Nos últimos dias, houve alguns espasmos de bom senso entre as autoridades em prol do Brasil. Mas até que os gestos de conciliação se traduzam em uma onda de confiança levará tempo. As seguidas frustrações minaram o espírito animal que deve mover o empresariado. Do lado dos consumidores, aqueles que têm emprego fazem tudo para preservá-lo. São poucos os que se arriscam a consumir, pois há o temor de que poderá faltar dinheiro mais à frente. Passou da hora, portanto, de o Brasil virar a chave e dar esperança a todos. Chega de tantas notícias ruins.