O que costumamos dizer para as crianças, que monstros não existem, é uma grande mentira. Eles existem sim. Vivem entre nós, disfarçados de seres humanos, mas todos os dias emergem, aqui e ali, e mostram sua face abjeta. Nesta semana, dois se revelaram aqui perto, em Planaltina de Goiás. Covardes que são, se uniram para martirizar quatro crianças, de 1, 3, 7 e 9 anos! Dia a dia, as agrediam e as deixavam trancadas sozinhas em casa, famintas. Na terça-feira, quando descobriram que elas pediram comida a um vizinho, as espancaram brutalmente com um vergalhão de aço. A menina, de 7, foi trucidada. Além de violentamente agredida, passou a noite no quintal, ao relento. Morreu no dia seguinte, antes de o socorro chegar.
Os detalhes do suplício dos irmãos são de tal forma aterradores que é devastador até mencioná-los. São de fazer chorar convulsivamente e não parar mais, de corroer a alma, de desejar a implosão deste mundo maligno. Como é possível tanto ódio e justamente contra crianças, meu Deus? De que são feitas essas criaturas medonhas, capazes de tamanha barbaridade e que, mesmo assim, respiram o mesmo ar que todos nós?
Os inocentes, com tão pouca idade, parecem só ter conhecido sofrimento. Os pais foram presos em fevereiro, por tráfico de drogas. Desde então, moravam num barraco com os monstros: a tia, de 17 anos, e o namorado dela, de 19. Quando a polícia chegou lá, encontrou o quadro de horror. Para a menina de 7 anos já era tarde demais: estava morta. Os irmãos dela, muito machucados, foram hospitalizados. Dois seguiram depois para um abrigo, e a menina, de 3, continua internada, porque está com duas fraturas no braço.
A polícia quer saber agora por que os quatro foram entregues a uma menor de idade. E eu pergunto: por que a Justiça não se encarregou deles quando os pais foram presos? Crianças indefesas nas mãos de sanguinários, vivendo num inferno, sem ninguém para socorrê-las. O país tinha de parar diante de uma barbárie dessa. Mas não parou. Nem vai. Afinal, é só mais uma entre tantas atrocidades que acontecem diariamente com o grupo mais vulnerável da população. Uma rotina tão macabra quanto relegada. A sociedade, por vezes, assiste impassível aos maus-tratos contra crianças ; não quer se envolver ;, e o poder público nada faz de efetivo para combatê-los.
Os selvagens, se condenados, ficarão pouco tempo longe das ruas. A tia, no máximo três anos, por ser menor de idade. O comparsa dela pode ser sentenciado a até três décadas de reclusão, mas todos sabemos que, com a nossa generosa legislação penal, logo ganhará liberdade. Para mim, os que cometem atrocidades com crianças não deveriam ter direito a nenhum benefício. Nada de tentar recuperá-los para devolvê-los ao convívio social. Com esse nível de perversidade, deveriam apodrecer na cadeia. Monstros têm de viver enjaulados.