Daqui a 23 dias, o brasiliense se despede do outono. Este ano, as chuvas de verão se prolongaram até quase metade da estação que antecede o inverno, deixando para trás mais de 18 mil pessoas com dengue e pelo menos duas dezenas de mortos pela doença provocada pelo mosquito Aedes aegypti. Não é surpresa para ninguém que o vetor se prolifera na estação das águas; que é preciso política pública capaz de mobilizar a população sobre os cuidados e os riscos; que os agentes de vigilância e o fumacê precisam estar nas ruas. O governo fez tudo o que podia para prevenir a doença e as mortes por dengue? Talvez os órgãos de fiscalização e controle tenham a resposta.
Há cerca de um mês, na fila do mercado, ouvi sem querer o relato de uma mulher que, sem convênio e sem dinheiro para pagar por uma consulta, procurou socorro na rede pública. Após esperar por mais de três horas na fila da triagem, com febre, dor no corpo e na cabeça ; sintomas clássicos de dengue ; foi colocada em uma ambulância junto com outros pacientes e levada para um postinho de saúde. Não havia médico no hospital para fazer o atendimento.
O ciclo de alta incidência de dengue deve começar a cair com a proximidade da seca. Mas aí, surge outro problema igualmente grave, também pode ser fatal e que lota os hospitais: as doenças respiratórias levam centenas às emergências das redes pública e privada. A baixa umidade do ar ajuda a dissipar diferentes vírus. As vítimas mais recorrentes e mais sensíveis são as crianças e os idosos. Quando a temporada dessas enfermidades bater à porta, o governo dará vazão à demanda pelo atendimento?
Nas últimas semanas, a resposta dos hospitais para as queixas de pacientes da rede pública tem sido parecida: faltam médicos, superlotação das enfermarias e dos quartos. A boa gestão da saúde, promessa de todo político na temporada de caça aos votos, precisa ser colocada em prática urgentemente e começa na prevenção.
É desumano permitir que cidadãos ; no seu momento de maior fragilidade, quando a saúde requer cuidados ; peregrinem de hospital em hospital em busca de atendimento. É inaceitável que pacientes percam a consciência deitados no chão ou nas cadeiras de pronto-socorro à espera de um médico. A culpa pela demora ou falta de atendimento não é dos profissionais, salvo algumas exceções. A maioria deles atua sob pressão e em condições adversas de toda ordem. A assistência à saúde é um direito constitucional e precisa ser respeitado.