A eleição para o Parlamento Europeu, encerrada no último domingo, parece ter colocado fim de uma vez por todas ao bipartidarismo. Nas urnas ; com direito a maior participação dos últimos 20 anos ;, a população deu seu recado de insatisfação com a ordem política vigente ao eleger o legislativo continental mais liberal e mais verde de toda a sua história. O importante agora é entender o que isso significa na prática.
A constatação mais imediata é a de que os blocos que há décadas vinham governando o continente já não possuem mais os apoios suficientes no Parlamento. A direita tradicional (;populares;) e os social-democratas (centro-esquerda) perderam espaço. Antes, tinham 412 dos 751 deputados que compõem a Câmara. Agora, terão ;apenas; 330. E para onde migraram esses outros votos? Boa parte deles foi para candidatos liberais ou de partidos ecologistas ou da extrema direita.
Os resultados confirmam que não há mais espaço para a polarização entre social-democratas e populares, que precisarão se conformar em buscar novas alianças na União Europeia, em busca de um acordo que garanta a governabilidade ao menos para os próximos cinco anos.
Entre as metas essenciais a serem alcançadas estariam a democratização das instituições e a preocupação maior com a questão ecológica. Nesse contexto, não é de se assustar que a candidata liberal Margrethe Vestager tenha declarado abertamente sua aspiração de presidir a Comissão Europeia. Seria a primeira mulher a ocupar o cargo.
As negociações para definir os presidentes e vice-presidentes do Parlamento Europeu começaram ontem com uma conferência de presidentes dos grupos em Bruxelas, na Bélgica. E as discussões prometiam muito... Além do Parlamento, também era necessário definir sobre a Comissão Europeia e o Conselho Europeu.
Com a fragmentação do Parlamento, o quadro político europeu se apresenta um tanto quanto nebuloso. Afinal, tendências e visões das mais diversas disputarão a hegemonia. Está claro que não há como fechar os olhos à onda verde (dobraram sua representação, chegando a 22%), que ganhou fôlego em países, como Alemanha, Reino Unido, França e Irlanda. Mas, de início, uma já intitulada ;Aliança Progressista; (unindo populares e social-democratas) parece ser a opção mais viável. Mas até quando conseguirão se manter? Difícil responder.
É mais fácil projetar o futuro da União Europeia. O Partido de Brexit, de Nigel Farage, conseguiu fazer 29 eurodeputados (será o de maior representação no Parlamento). E ele já conclamou o governo britânico a concluir a retirada do Reino Unido da União Europeia, respeitando o prazo atual, válido até o 31 de outubro.
Por fim, é preciso ressaltar que a extrema direita (ligada ao The Movement, de Steve Bannon e seus contornos xenófobos, racistas e homofóbicos), apesar de ter crescido nas urnas, como com Marine Le Pen na França, não logrou êxito em seu objetivo de alcançar um terço dos assentos, o que lhe daria possibilidade até de travar os trabalhos do Parlamento.
As cartas estão dispostas neste intrincado tabuleiro. E agora mais embaralhadas do que nunca. O jogo começou, mas não necessariamente haverá um único vencedor. A regra primordial continua a mesma: apesar de todas as diferenças, manter a Europa unida. Não será fácil concluir essa tarefa.