A manifestação popular é vital para o fortalecimento da democracia. Mas não soa bem um governo que nem completou seis meses insuflar seus seguidores a saírem às ruas para dar uma demonstração de força. Em vez de pregar a radicalização, cabe aos que estão no poder pacificar o ambiente, ampliar o diálogo e, claro, fazer o que for possível para atender aos anseios da população. É esse o desejo da maioria dos brasileiros.
A expectativa é grande em relação aos protestos marcados para este domingo. Contudo, qualquer que seja o resultado, não haverá ganhadores, dado o discurso de ódio que vem sendo usado, sobretudo nas redes sociais, para chamar os eleitores a se manifestarem em favor do governo. Prega-se o ataque ao Congresso e ao Supremo Tribunal Federal (STF), dois dos pilares da democracia, num movimento típico de nações que flertam com o autoritarismo.
O governo, num momento tão crucial para o país, deveria canalizar as energias para negociar com o Legislativo uma pauta construtiva a fim de tirar a economia do atoleiro em que se encontra. Há tantos projetos importantes para serem tocados ; o principal deles, a reforma da Previdência Social ;, mas o ambiente conturbado acaba travando decisões que dariam alento a muita gente. Não se pode esquecer que mais de 13 milhões de pessoas estão desempregadas.
Aqueles que pregam o radicalismo deveriam olhar para a história. Talvez se deem conta de que, quanto mais defenderem ataques às instituições, maior será a dificuldade do país para se recolocar nos trilhos do crescimento. Foi o péssimo desempenho da economia que levou à destituição de presidentes. A população, em grande maioria, tem suas posições políticas, mas, quando vê seu bem-estar ameaçado, não pensa duas vezes em gritar contra os poderosos.
A tendência, com a radicalização em vez do diálogo, é de o Brasil afundar de vez. Desde 2014, a recessão mostra seu lado mais perverso por meio do aumento do desemprego e da pobreza. As contas públicas estão no limbo, com deficits consecutivos. O Estado perdeu a capacidade de investimentos. Arrecada quase 35% do Produto Interno Bruto (PIB), mas não oferece o mínimo em troca à população. Esse quadro é insustentável.
Espera-se que, ao menos, os protestos sejam pacíficos. Já basta a violência que impera nas redes sociais, nas quais todos se sentem poderosos. A vida real, contudo, é cruel e não perdoa. Portanto, que todos tenham juízo e se deixem levar pelo bom senso. Insistir no erro custará caro. O momento é de união, não de acirramento da divisão política que tanto mal tem feito ao país.