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Multidão se reúne para prestar última homenagem a pacifista John Hume

Homenagens ao arquiteto da paz na Irlanda do Norte chegaram do mundo inteiro, do papa ao Dalai Lama, passando por Bono Vox

A Irlanda do Norte prestou homenagem, nesta quarta-feira (5/8), ao vencedor do Prêmio Nobel da Paz John Hume, que faleceu na segunda-feira (3/8) aos 83 anos de idade, e arquiteto da reconciliação na província britânica marcada por três décadas de conflito. 

Homenagens também chegaram do mundo inteiro, do papa ao Dalai Lama, passando por Bono Vox. 

O funeral desse católico foi realizado ao meio-dia na Catedral de Saint Eugene, em sua cidade natal, Londonderry, com um público limitado devido a restrições ligadas à pandemia de coronavírus.

Mas apesar dos pedidos da família, que prometeu organizar uma homenagem posteriormente quando as condições sanitárias permitirem, dezenas de pessoas se reuniram em frente à igreja.

"Não apenas sonhava com a paz. A vocação de sua vida foi ser um pacificador pelo bem dos demais", declarou em sua introdução o bispo Donald McKeow. "Graças ao seu passado, podemos construir o futuro".

As homenagens se sucederam, do papa Francisco, que dedicou suas orações a ele por meio de uma declaração de seu secretário de Estado, ao Dalai Lama, que elogiou um "exemplo" de resolução de conflito não violento.

"Procurávamos um negociador que entendesse que ninguém vence a menos que todos ganhem", disse Bono, líder do U2, cujo hit "Sunday Bloody Sunday" de 1983 denunciava a agitação que sacudia sua Irlanda natal.

"Estávamos à procura de um grande líder e encontramos um ótimo servidor (...) encontramos John Hume", acrescentou.

"Ele se concentrou na unidade e na paz" e em "dar a cada pessoa essa dignidade", observou o padre Paul Farren em sua homilia.

De acordo com o desejo da família do falecido, uma "vela da paz" foi acendida na escadaria de Downing Street, segundo o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson.

O caixão de vime foi colocado no templo na tarde de terça-feira, diante de uma multidão que se reuniu para prestar uma última homenagem.

Figura moderada e pacifista do bloco republicano, a favor da reunificação da Irlanda, John Hume desempenhou um papel fundamental no processo que levou ao acordo de paz da Sexta-feira Santa de 1998 com os unionistas, essencialmente protestantes.

Com máscaras e velas nas mãos, membros do Partido Social Democrata e Trabalhista (SDLP), que ele liderou por duas décadas, formaram uma fileira em sua homenagem na catedral.

"John Hume logo percebeu que uma vida perdida já era demais", disse Jon McCourt, morador de Londonderry, à AFP na terça-feira à noite.

"Compromisso inabalável"
 
O ex-líder católico nacionalista recebeu o Prêmio Nobel da Paz em 1998, juntamente com o líder protestante do Partido Unionista do Ulster, David Trimble, em reconhecimento aos "seus esforços para encontrar uma solução pacífica" para três décadas de conflito na Irlanda do Norte, que deixaram mais de 3.500 mortos.

O rosto de John Hume aparece em inúmeros afrescos nos muros de Londonderry, onde nasceu em 18 de janeiro de 1937.

Em um deles, está ao lado de outros ganhadores do Nobel, como Nelson Mandela, Madre Teresa de Calcutá e Martin Luther King. 

Foi também nesta cidade onde o conflito começou em 1968 e onde os incidentes do "Domingo Sangrento" ocorreram em 30 de janeiro de 1972, quando a polícia britânica matou 14 manifestantes pacifistas.

Hume foi eleito como candidato independente para o Parlamento da província britânica em 1969 e em 1983 tornou-se deputado no Parlamento britânico. 

Pai de cinco filhos, ajudou a levar o conflito da Irlanda do Norte para o cenário internacional, envolvendo especialmente o ex-presidente americano Bill Clinton, que na segunda-feira elogiou seu "compromisso inabalável" com a paz.

Localmente, ele iniciou o diálogo com os nacionalistas do Sinn Fein, o ramo político do IRA (Exército Republicano Irlandês), e seu líder Gerry Adams, preparando as bases para os acordos de paz.