Correio Braziliense
postado em 05/08/2020 04:05
Pesquisadores do Museu Real de Ontário (ROM, sigla em inglês) e da Universidade de McMaster, ambos no Canadá, descobriram e diagnosticaram um câncer ósseo maligno agressivo — um osteossarcoma —, pela primeira vez, em um dinossauro. O tumor, descrito na revista The Lancet Oncology, foi detectado na fíbula (osso da perna) do Centrosaurus apertus, um dinossauro com chifres que viveu de 76 a 77 milhões de anos atrás.
A malformação do fóssil, descoberto em 1989, era originalmente considerada uma fratura curada. Observando as propriedades incomuns da fíbula em uma viagem ao Museu Real Tyrrell em 2017, pesquisadores da Universidade McMaster decidiram investigá-lo usando modernas técnicas médicas. Eles reuniram uma equipe de especialistas multidisciplinares de áreas como patologia, radiologia, cirurgia ortopédica e paleopatologia. A equipe reavaliou o osso e abordou o diagnóstico da mesma forma que seria em um paciente humano.
Após examinar cuidadosamente, documentar e moldar o osso, a equipe realizou tomografias computadorizadas de alta resolução (TC). Os pesquisadores, então, seccionaram o osso fóssil e o examinaram sob um microscópio para avaliá-lo no nível celular-ósseo. Poderosas ferramentas tridimensionais de reconstrução da TC foram usadas para visualizar a progressão do câncer através do osso. Usando esse processo rigoroso, os pesquisadores chegaram ao diagnóstico de osteossarcoma.
“O osso da canela mostra um câncer agressivo em estágio avançado. O câncer teria efeitos debilitantes no indivíduo e o tornaria muito vulnerável aos formidáveis predadores de tiranossauros da época”, diz David Evans, especialista nesses dinossauros com chifres. “O fato de que esse dinossauro herbívoro vivia em um rebanho grande e protetor pode ter permitido que ele sobrevivesse por mais tempo do que normalmente seria possível, tendo uma doença tão devastadora”.
Vínculos biológicos
Osteossarcoma é um câncer ósseo que, geralmente, ocorre na segunda ou na terceira década de vida. É um crescimento excessivo de osso desorganizado que se espalha rapidamente, tanto no local em que se origina como em outros órgãos, incluindo o pulmão. “Essa descoberta nos lembra os vínculos biológicos comuns em todo o reino animal e reforça a teoria de que o osteossarcoma tende a afetar os ossos quando e onde eles estão crescendo mais rapidamente”, afirma Seper Ekhtiari, residente em cirurgia ortopédica na Universidade McMaster.
O estabelecimento de vínculos entre doenças humanas e doenças do passado ajudará os cientistas a entenderem melhor a evolução e a genética de várias doenças. Evidências de muitas outras enfermidades que compartilhamos com dinossauros e outros animais extintos ainda podem estar em coleções de museus que precisam ser reexaminadas usando modernas técnicas analíticas, destacaram os autores do estudo.
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