O movimento pró-democracia em Hong Kong sofreu outro golpe nesta sexta-feira (31/7), com o adiamento das eleições legislativas devido ao coronavírus, após um mês marcado pela desqualificação de seus candidatos, pela prisão de estudantes e pelo exílio de figuras da oposição.
Um ano após protestos sem precedentes desde a devolução desta ex-colônia à China em 1997, o poder central chinês impôs, no final de junho, uma polêmica lei neste território semiautônomo, denunciada pelo lado pró-democracia como um instrumento legal para sufocar qualquer dissidência.
Para muitos, anuncia o fim do status deste território, que, no entanto, deveria gozar de uma ampla autonomia e liberdades desconhecidas na China continental até 2047, sob o princípio "Um país, dois sistemas".
Nas semanas seguintes à promulgação da lei, uma ampla repressão foi desencadeada contra o movimento pró-democracia.
E, nesta sexta-feira, a chefe do Executivo local, Carrie Lam, nomeada por Pequim, anunciou o adiamento das eleições de setembro para eleger o Conselho Legislativo (Legco, o Parlamento local).
Resistência continuará
"Hoje anuncio a decisão mais difícil dos últimos sete meses [...], que é a de adiar as eleições para o Conselho Legislativo", devido a um aumento nos casos de coronavírus, afirmou Lam.
O governo central chinês chamou a medida de "necessária, razoável e legal".
Essa decisão alimentará, porém, a indignação da oposição, que havia pedido a Lam que não usasse a pandemia para se proteger de um desastre nas urnas.
Na quinta-feira (30), as autoridades anunciaram a invalidação da candidatura de militantes pró-democracia para esta disputa eleitoral.
"Nossa resistência continuará, e esperamos que o mundo esteja do nosso lado na batalha que está por vir", disse em entrevista coletiva Joshua Wong, de 23, jovem que se tornou o rosto do movimento conhecido como "Revolução dos Guarda-Chuvas" em 2014.
Ele também teve sua candidatura invalidada.
"É, sem dúvida alguma, o período de fraude eleitoral mais escandaloso da história de Hong Kong", acrescentou.
As autoridades já haviam negado a Wong o direito de concorrer às eleições locais de novembro passado, nas quais o bloco pró-democracia venceu.
A desqualificação dessas candidaturas ilustra a crescente influência do poder central chinês na antiga colônia britânica.
As autoridades locais apresentaram várias razões para invalidar essas candidaturas para a eleição de setembro, incluindo as opiniões dos pró-democracia contra a lei de segurança e sua recusa a reconhecer a soberania chinesa.
Em outro argumento insólito, o Executivo local também criticou certos candidatos por tentarem obter uma maioria no LegCo.
O lado pró-democracia esperava aproveitar a popularidade do movimento de protesto do ano passado e seu sucesso nas eleições locais de novembro para obter, pela primeira vez, uma maioria no LegCo.
O Conselho é composto de tal maneira que, em geral, tende quase automaticamente a se inclinar para o lado dos partidários do governo central.
Mais de 600 mil cidadãos de Hong Kong participaram das primárias organizadas pelo campo pró-democracia nesta cidade de 7,5 milhões de habitantes em meados de julho. Analistas consideraram a consulta um sucesso popular.