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Em busca de sinais de vida em Marte

Missão lançada ontem pela agência espacial americana vai tentar encontrar indícios de que seres vivos microscópicos já habitaram o Planeta Vermelho. O rover Perseverance também tem o objetivo de colher amostras geológicas e trazê-las de volta à Terra




Ofuscada pela pandemia da covid-19 — que, por sinal, atrasou o projeto —, a missão exploratória Marte 2020 saiu ontem do papel com o lançamento bem-sucedido do rover Perseverance. O veículo tem como missão procurar sinais de vida microscópica antiga, além de coletar dados sobre a geologia do planeta que até hoje mais estimula a curiosidade dos vizinhos terráqueos.

Lançado com o helicóptero Ingenuity, que fará testes tecnológicos em Marte, o Mars 2020 mandou o primeiro sinal para a Terra às 9h15 (10h15 de Brasília). Mas somente duas horas depois, a Agência Espacial Norte-Americana (Nasa) recebeu a telemetria — conjunto de informações detalhadas da rover. Os dados indicaram que a sonda havia entrado em estado de segurança, um problema técnico que, de acordo com a Nasa, não é motivo de preocupação.

Em uma nota postada no site, a agência explicou que, provavelmente, isso ocorreu porque uma parte de Marte 2020 estava um pouco mais fria do que o esperado enquanto a sonda passava pela sombra da Terra. “Todas as temperaturas agora são nominais (ambiente), e a sonda está fora da sombra da Terra”, informou o texto.

Essa é considerada a missão mais sofisticada da Nasa, que já foi a Marte outras vezes e, inclusive, está representada atualmente no planeta pelo robô Curiosity. Caso chegue ao destino, Perseverance e Ingenuity se encontrarão também com as sondas Tianwen-1, da China, e Hope, dos Emirados Árabes Unidos, lançadas também neste mês e com pousos previstos para fevereiro.

O equipamento da agência norte-americana deve aportar no Planeta Vermelho em 21 do mesmo mês. “Perseverance é o veículo espacial mais capaz da história porque está (tecnologicamente) acima dos nossos pioneiros, Sojourner, Spirit, Opportunity e Curiosity”, disse, em nota à imprensa, Michael Watkins, diretor do Laboratório de Propulsão a Jato da Nasa no sul da Califórnia.

A missão Marte 2020 é o primeiro passo do mais ousado programa espacial da história: a viagem humana à Lua e, a partir de lá, ao Planeta Vermelho. Encarregada de enviar a primeira mulher e o próximo homem para o satélite até 2024, a Nasa pretende estabelecer a presença humana em solo lunar até 2028, por meio do programa Artemis. Depois disso, a Lua seria o ponto de partida de uma tripulação para Marte.

Cratera Jezero

Enquanto isso, Perseverance tentará responder se já houve vida microscópica no planeta vizinho. “Ela pousará na cratera Jezero, que foi escolhida porque costumava ser um lago e, portanto, era provavelmente um ambiente habitável, onde evidências de vida no passado poderiam ter sido preservadas. Selecionaremos amostras para o retorno à Terra que possam nos contar sobre esse antigo lago e sobre qualquer forma de vida em potencial que teria vivido lá”, conta Elisabeth Hausrath, geocientista da Universidade de Nevada, em Las Vegas, que ajudará a analisar o material coletado pelo robô.

Perseverance vai trazer amostras geológicas que ajudarão a entender melhor a estrutura e o clima do planeta. “Além de procurar vida, a cratera Jezero fornecerá informações sobre quando e como as terras altas de Marte foram formadas, e o momento em que as crateras surgiram. Todas essas informações ajudarão a responder a outra pergunta fascinante — que recursos estão presentes para que os humanos consigam criar um habitat em Marte? ”, diz Munir Humayun, professor de geoquímica da Universidade da Flórida. Embora não faça parte dessa missão, o cientista é um dos maiores especialistas em solo marciano e já publicou diversos artigos sobre a geologia do Planeta Vermelho.

A Nasa explica que, enquanto a maioria dos sete instrumentos do Perseverance (veja arte) é voltada para aprender mais sobre a geologia e a astrobiologia de Marte, o trabalho do instrumento MOXIE (experimento de utilização de recursos in situ de oxigênio de Marte) está focado em missões ainda por vir. “Projetado para demonstrar que a conversão de dióxido de carbono marciano em oxigênio é possível, ele pode levar a versões futuras da tecnologia, que se tornarão essenciais nas missões tripuladas, fornecendo oxigênio para combustível de foguetes e ar respirável”, diz o comunicado da agência.

Já o helicóptero Ingenuity não tem instrumentos científicos e fará testes tecnológicos. O veículo tentará completar até cinco voos controlados e com potência. Os dados coletados durante os testes ajudarão a projetar a próxima geração de helicópteros marcianos. A Nasa espera que ele forneça uma dimensão aérea às futuras explorações do planeta, procurando por rovers e tripulações humanas, transportando pequenas cargas úteis ou investigando destinos de difícil acesso.