Considerado uma das vozes mais poderosas da defesa da justiça e da igualdade nos Estados Unidos, John Lewis morreu, aos 80 anos, em decorrência das complicações de um câncer de pâncreas. O ícone afro-americano travou uma batalha contra a discriminação racial e a injustiça, sendo espancado pela polícia e preso repetidamente durante protestos contra genocídios e leis sobre a imigração. Nem a doença o parou. Em junho deste ano, já bastante debilitado pelo câncer, participou dos protestos pela morte de George Floyd, sufocado por um policial branco em Minnesota, em maio.
John Lewis participou da fundação dos Passageiros da Liberdade — na época tinha 21 anos —, grupo que lutou contra a segregação racial no sistema de transporte público dos Estados Unidos no início dos anos 1960. Também foi o líder mais jovem da manifestação de 1963 em Washington, na qual Luther King proferiu o histórico discurso I have a dream (Eu tenho um sonho). Dois anos depois, quase morreu em uma manifestação antirracista em Selma, Alabama, quando teve o crânio fraturado pela polícia.
O protesto emblemático ficou conhecido como Domingo Sangrento. Exatamente meio século depois, Lewis caminhou no local em que foi atacado de mãos dadas com o então presidente Barack Obama. O primeiro negro a ocupar a Casa Branca concedeu ao ativista a Medalha da Liberdade, em 2011, a maior distinção civil dos Estados Unidos. Ontem, prestou nova homenagem. “Poucos de nós vivemos para ver nosso próprio legado se desdobrar de maneira tão significativa e notável. John Lewis conseguiu”, escreveu Obama, no Twitter.
Herói
Lewis entrou no Congresso em 1986 e, logo, se tornou uma autoridade moral. Presidente da Câmara, Nancy Pelosi, o considerava “a consciência do Congresso”. “Hoje, os Estados Unidos choram a perda de um dos maiores heróis de sua história”, declarou, em nota.
O presidente Donald Trump também lamentou a morte. “Entristeceu ouvir as notícias do herói dos direitos civis John Lewis. Melania e eu enviamos nossas orações a ele e sua família”, escreveu, no Twitter. Antes, o republicano havia ordenado que bandeiras fossem hasteadas a meio mastro ao longo do dia.
Lewis não participou da posse de Trump, alegando que não o considerava um presidente “legítimo”, devido às denúncias de interferência russa nas eleições de 2016 para impulsionar a sua candidatura. Ele se afastou das atividades legislativas nos últimos meses para se concentrar no tratamento contra o câncer.