Em abril, dois meses depois de a covid-19 ser considerada uma pandemia pela Organização Mundial da Saúde (OMS), o Hospital Infantil Evelina London, em Londres, sofreu um aumento de pacientes pediátricos com uma síndrome hiperinflamatória multissistêmica. As crianças apresentaram uma variedade de sintomas, incluindo febre, dores de cabeça, dor abdominal, erupção cutânea e conjuntivite. As características clínicas e laboratoriais compartilharam algumas semelhanças com as da doença de Kawasaki — que causa inflamação nas paredes dos vasos sanguíneos, mas é uma condição mais grave que o quadro apresentado pelos pequenos pacientes londrinos.
Agora, um estudo publicado na revista Radiology analisou o espectro dos exames de imagem em crianças com a condição inflamatória pós-covid-19, conhecida, por enquanto, como síndrome inflamatória multissistêmica em crianças (MIS-C). Para o artigo, os pesquisadores realizaram uma revisão retrospectiva das descobertas clínicas, laboratoriais e de imagem das primeiras 35 crianças que atendiam à definição de caso para MIS-C. Elas deram entrada no hospital entre 14 de abril e 9 de maio.
A apresentação clínica mais comum foi febre, encontrada em 94% das crianças, sintomas gastrointestinais, incluindo dor abdominal, vômitos e diarreia (86%), erupção cutânea (37%) e conjuntivite (26%). Vinte e uma crianças (60%) estavam em choque. O estado clínico foi grave o suficiente para justificar o tratamento na unidade de terapia intensiva pediátrica em 69% delas, das quais 20% necessitaram de ventilação mecânica e 57%, de apoio inotrópico.
Exames de imagem
O estudo identificou um padrão nos exames de imagem dos pacientes de Mis-C curados da covid-19, incluindo inflamação das vias aéreas, edema pulmonar rapidamente progressivo, aneurismas das artérias coronárias e extensas alterações inflamatórias abdominais na fossa ilíaca direita.
Dezenove radiografias, por exemplo, eram anormais, sendo a característica mais comum o espessamento da parede brônquica. Na tomografia do tórax, predominaram preenchimento de líquido no pulmão e colapso do órgão com derrame pleural (acúmulo de líquido nas membranas externas). Os autores recomendam que estudos futuros incluam um grupo maior de pacientes, que devem ser acompanhados em longo prazo.