Imagens inéditas do Sol poderão ajudar a desvendar um dos enigmas que mais intrigam astrônomos: por que nas camadas mais externas da atmosfera solar, a coroa, a temperatura chega a um milhão de graus, cerca de 200 vezes mais quente do que a superfície da estrela? O fenômeno é contrário a leis da física, que indicam que quanto mais afastada de uma fonte de calor, mais a temperatura cai.
Segundo registros feitos pela sonda Orbiter, a explicação pode estar na ocorrência de miniexplosões de plasma perto da superfície da estrela. “O Sol pode parecer calmo à primeira vista. Mas quando olhamos em detalhe, podemos ver essas erupções em miniatura em qualquer lugar”, diz David Berghmans, do Observatório Real da Bélgica. A missão é fruto de uma parceria entre a Agência Espacial Europeia (ESA) e a agência americana, a Nasa.
De acordo com o físico, essas ejeções “são pequenas em comparação com as gigantescas explosões solares que podemos observar da Terra, milhões ou bilhões de vezes menores”. No entanto, podem ser do tamanho de um país pequeno. A equipe investiga se as miniexplosões são versões em miniatura de grandes erupções ou o resultado de outros fenômenos.
As teorias, segundo eles, permitem cogitar que as miniexplosões possam contribuir para o aquecimento da coroa solar. Essa camada mais externa do Sol, que se estende por milhões de quilômetros no espaço, atinge milhões de graus, enquanto a temperatura da superfície é de cerca de 5.500 graus. Entender esses mecanismos é considerado o Graal da física solar, segundo a ESA.
No começo
A sonda decolou da Terra em 10 de fevereiro e tem outras missões, como estudar as tempestades carregadas de partículas energéticas causadas por explosões solares. Esse fenômeno pode perturbar significativamente as redes de telecomunicações e as redes terrestres de eletricidade, a chamada meteorologia espacial.
Imagens inéditas dos polos do astro, a chamada terra desconhecida, também devem ser reveladas até 2025. Segundo Sami Solanki, diretor do Instituto Max-Planck de pesquisas sobre o Sistema Solar, essas informações ajudarão a esclarecer o funcionamento do campo magnético solar.
A expectativa da equipe é grande porque a missão ainda não entrou na fase de coleta de dados científicos. No momento, a sonda se aproxima do Sol e as imagens — feitas a 77 milhões de quilômetros da estrela (cerca de metade da distância Terra-Sol) — são para verificar se os instrumentos da Orbiter estão funcionando. O período de observações científicas começará em novembro de 2021. A previsão é de que, em março de 2022, a sonda fique ainda mais perto do Sol.