Mundo

Caçada no submundo da internet

Após seis anos de investigações, polícia francesa captura homem, de 40 anos, que figurava na lista dos 10 mais procurados do mundo por manter sites de pornografia infantil na darknet. Aparentemente insuspeito, ele também é acusado de violentar os dois filhos




Sem processos na Justiça ou mesmo ficha policial, ele aparentemente levava uma vida normal e era o que se convenciona chamar de uma pessoa acima de qualquer suspeita. Mas o cotidiano pacato, de um chefe de família em Bordeaux, no sudoeste da França, não passava de fachada, constataram investigadores internacionais após seis anos de averiguações.

Na verdade, tratava-se de um dos 10 pedófilos mais procurados do mundo, destacou, ontem, o Ministério Público francês, ao anunciar a prisão do homem, de 40 anos. Com a identidade mantida sob sigilo, ele foi detido na terça-feira da semana passada, em sua casa, na área rural da cidade, famosa por suas vinícolas.

É acusado de ter sites de pornografia infantil acessíveis a “milhares de pessoas” na darknet, a parte oculta da internet, muito usada para atividades ilegais. “Ele se tornou um dos alvos prioritários do mundo na luta contra o abuso infantil”, resumiu a promotora da República de Bordeaux, Frédérique Porterie.

“Ele permitiu que milhares de usuários da Internet em todo o mundo acessassem fotografias e vídeos de pornografia infantil”, disse a promotora. Agia pela internet e, pelo que agora se sabe, também pessoalmente. De acordo com uma fonte próxima ao caso, o preso também é acusado de estuprar seus dois filhos pequenos, gravar a ação e publicá-la on-line. Segundo informações da promotoria, ele admitiu as acusações.

Dois dias após a detenção, ainda provisória, foi acusado por crime organizado e posse e gravação de imagens pornográficas infantis. Ele também responde por estupro incestuoso de um menor por um ascendente e agressões sexuais incestuosas em um menor de 15 anos de idade por um ascendente.

Perfil ilibado

As ações do acusado foram detectadas pela primeira vez em 2014, mas ele estava na ativa há pelo menos 13 anos. Segundo Frédérique Porterie, em 2007 ele já havia compartilhado nas redes fotos e vídeos de sua própria produção. “Os serviços repressivos mundiais tinham como alvo um internauta há anos, que usava pseudônimo e administrava dois portais de pornografia infantil na darknet”, disse.

No entanto, no dia a dia, assinalou um policial que participou das investigações, tinha um perfil totalmente comum: casado, pai de família, integrado a uma profissão, que trabalhava em uma comunidade local.

“Era um superadministrador de portais de pornografia infantil que parece um homem totalmente normal”, reforçou Eric Bérot, chefe do escritório central de Supressão da Violência contra Pessoas (OCRVP). “No campo. Não é ali que se espera descobrir um dos principais administradores da área de pedofilia da darknet”, enfatizou.

O trabalho dos investigadores franceses começou com poucas informações. “Ele se comunicava apenas em inglês. Não tínhamos indicação de sua nacionalidade. Mais tarde, com a infiltração cibernética, conseguimos identificá-lo”, contou Bérot.

Para isso, foi decisiva a colaboração da Europol, a polícia europeia, que possui uma célula para combater as redes internacionais de pornografia infantil da darknet. Com a infiltração cibernética, obteve-se, enfim, o endereço IP do criminoso.

Durante as buscas na casa do detido, situada a 30km do centro de Bordeaux, os investigadores apreenderam muitos equipamentos de informática, como servidores.

Alemanha

Recentemente, a Alemanha deflagrou uma megaoperação contra uma rede de pedofilia na internet. Aproximadamente 30 mil pessoas estão sob investigação, num dos maiores casos do país, que debate sentenças mais rigorosas para os autores.

As diligências são um desdobramento da prisão, em outubro do ano passado, de um homem, de 42 anos, em Bergisch Gladbach, perto de Colônia.

“Eu não esperava essa extensão do abuso infantil na rede”, declarou Peter Biesenbach, ministro da Justiça da região de Renânia do Norte-Westfalia (oeste do país), onde o escândalo explodiu.



“Ele era um superadministrador de portais de pornografia infantil que parecia um homem totalmente normal"
Eric Bérot, chefe do escritório central de Supressão da Violência contra Pessoas (OCRVP)