Com uma margem estreita de votos, o presidente conservador da Polônia, Andrzej Duda, derrotou o rival liberal e pró-europeu Rafal Trzaskowski, prefeito centrista de Varsóvia, no segundo turno e foi reeleito para um novo mandato de cinco anos. Segundo a Comissão Eleitoral, Duda obteve 51,03% dos votos, enquanto o adversário obteve 48,97% . Uma diferença de aproximadamente 500 mil votos, que demonstra a divisão acirrada na população do país.
O resultado das eleições consolida a posição do Partido Direito e Justiça (PiS), que está no poder desde 2015, mas a pequena margem de votos, segundo analistas, reforçará as críticas provocadas por suas polêmicas reformas judiciais, consideradas por muitos como ataques às liberdades democráticas.
Vitorioso nas urnas, embora não da forma que previa, o presidente reeleito tem uma plataforma radical. Ele promete endurecer ainda mais a lei antiaborto e se declarou contrário ao que chamou de “ideologia LGTB”, que, de acordo com ele, é “mais destrutiva que o comunismo”.
Após uma campanha muito polarizadora por parte de Duda, com apoio significativo de seu governo e da mídia pública, o presidente falou, ontem, em reconciliação. “Peço que mantenham o respeito mútuo”, disse a seus seguidores em Odrzywol, 85km ao sul de Varsóvia.
A reeleição de Duda, grande aliado do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, foi comemorada pelo primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orbán, que como o polonês integra o bloco ultranacionalista refratário à União Europeia. “Bravo!”, escreveu o húngaro em uma rede social.
O governo de Jair Bolsonaro também se alinha com Duda. No ano passado, o chanceler brasileiro, Ernesto Araújo, visitou o país. “O povo polonês garantiu a continuidade do projeto conservador que tem salvo o país. Brasil e Polônia seguirão sua irmandade, juntos na luta contra o comunismo e a favor da liberdade!”, destacou, no Twitter, o deputado Eduardo Bolsonaro, filho do presidente.
Nova dinâmica
Para analistas, o líder polonês deve procurar entender o recado das urnas. “O presidente Duda foi reeleito. Mas não é uma vitória forte”, declarou o cientista político Stanislaw Mocek, presidente do Collegium Civitas, à agência France Presse. Ao mesmo tempo, Mocek ressaltou que “os poloneses não optaram pela mudança proposta por Rafal Trzaskowski”.
“Apesar da derrota de Trzaskowski, seu bom resultado parece marcar um novo início, uma nova dinâmica para a oposição”, opinou, por sua vez, Andrzej Rychard, cientista político da Universidade de Varsóvia. “O resultado dá a Trzaskowski a possibilidade de virar uma figura-chave da oposição liberal”, completou. Trzaskowski pertence ao principal partido de oposição centrista, Plataforma Cívica (PO).
O governo conservador nacionalista do PiS é acusado pelos adversários políticos de ter reduzido as liberdades democráticas conquistadas há três décadas, após a queda do comunismo. Inicialmente, a eleição estava programada para maio, quando Duda tinha uma liderança folgada nas pesquisas. O adiamento decorreu da pandemia do novo coronavírus, que levou o país à recessão pela primeira vez desde o fim do regime comunista.
Pelo mapa de votação, o apoio a Duda foi grande nas zonas rurais e pequenas cidades do país. Por sua vez, Trzaskowski conseguiu os melhores resultados nas zonas urbanas e ocidentais da Polônia, próximas da fronteira com a Alemanha.
No primeiro turno, em 28 de junho, Duda, de 48 anos, obteve 43,5% dos votos quando a disputa tinha 10 candidatos. Trzaskowski ficou em segundo lugar com 30,4% dos votos. Quatro dias antes dessa votação, o presidente polonês se tornou o primeiro líder estrangeiro a visitar a Casa Branca desde o início da pandemia. Recebeu de Trump um elogio por seu “excelente trabalho”.
“Apesar da derrota de Trzaskowski, seu bom resultado parece marcar um novo início, uma nova dinâmica para a oposição”
Andrzej Rychard, cientista político da Universidade de Varsóvia