De acordo com as últimas estimativas, no ano passado, a fome afetava quase 690 milhões de pessoas, ou seja, 8,9% da população mundial, relata o documento da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), redigido com a colaboração do Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola, o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), o Programa Mundial de Alimentos e a Organização Mundial da Saúde (OMS).
Isso representa 10 milhões de pessoas a mais que em 2018 e 60 milhões a mais que em 2014. "Se a tendência continuar, estimamos que, até 2030, esse número excederá 840 milhões de pessoas. Isso significa claramente que o objetivo (erradicar a fome até 2030, estabelecido pela ONU em 2015) não está no caminho certo", declarou à AFP Thibault Meilland, analista de políticas da FAO.
E isso sem contar o choque econômico e de saúde provocado pela pandemia de COVID-19, que causou perda de renda, aumento dos preços dos alimentos, interrupção das cadeias de suprimentos, etc.
Segundo o relatório, é provável que a recessão global causada pelo novo coronavírus leve à fome entre 83 e 132 milhões de pessoas a mais. "Ainda são hipóteses relativamente conservadoras, a situação está evoluindo", observa Meilland.
A estimativa de subnutrição no mundo é muito menor do que nas edições anteriores: o relatório do ano passado mencionou mais de 820 milhões de pessoas com fome. Mas os números não podem ser comparados: a integração de dados recentemente acessíveis - em particular de pesquisas realizadas pela China em residências no país - levou à revisão de todas as estimativas desde 2000.
"Isso não é uma queda (no número de pessoas que sofrem de desnutrição), é uma revisão. Tudo foi recalculado com base nesses novos números", insiste Meilland.
"Como a China representa um quinto da população mundial, esta atualização tem consequências importantes para os números globais", aponta o analista da FAO.
"Mesmo que o número global seja inferior, a constatação de um aumento da desnutrição desde 2014 se confirma", acrescenta.
Custo da má alimentação
Entre os pontos de melhoria, a prevalência de atraso de crescimento entre crianças de cinco anos caiu um terço entre 2000 e 2019, com cerca de 21% das crianças afetadas em todo o mundo. Mais de 90% delas vivem na Ásia ou na África.
Além da desnutrição, o relatório aponta que um número crescente de pessoas "teve que reduzir a quantidade e a qualidade dos alimentos que consome".
Assim, dois bilhões de pessoas sofrem de "insegurança alimentar", ou seja, não têm acesso regular a alimentos nutritivos em qualidade e quantidade suficientes, indica.
São ainda mais numerosos (3 bilhões) aqueles que não têm meios para manter uma dieta considerada equilibrada, com, em particular, ingestão suficiente de frutas e legumes.
Saiba Mais
As agências especializadas da ONU estimam que, se os padrões de consumo de alimentos não mudarem, seu impacto nos custos diretos de assistência médica e na perda de produtividade econômica deve atingir 1,3 trilhão de dólares por ano até 2030.