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Mais casos de síndrome do coração partido

Correio Braziliense
postado em 10/07/2020 04:06
Doença desencadeada pelo estresse agudo leva à disfunção do músculo cardíaco

Das muitas consequências físicas e mentais da pandemia da covid-19, uma ainda não se conhecia: o coração partido. A síndrome, que popularmente leva esse nome por ser desencadeada por estresse emocional agudo, como a perda de um familiar ou uma separação, tem sintomas semelhantes ao do infarto, embora os pacientes não sofram de bloqueio das artérias. Segundo um estudo da Clínica Cleveland, um centro médico acadêmico dos Estados Unidos, houve um aumento na incidência dessa condição nos últimos meses, comparado ao período pré-pandêmico.

A cardiomiopatia do estresse — outro nome da síndrome de Takotsubo ou do coração partido — é rara e causa disfunção ou falência do músculo cardíaco. Os principais sinais são dor no peito e falta de ar, o que faz os pacientes imaginarem que estão sofrendo um infarto. Embora, diferentemente desse caso, as artérias coronarianas não estejam obstruídas, há um alargamento do ventrículo esquerdo. O impacto do estresse também pode provocar arritmias, desmaio, pressão baixa e choque cardiogênico, quando o coração não consegue bombear sangue suficiente para suprir as demandas do organismo.

O cardiologista Ankur Kalra, que liderou o estudo, publicado no Jama, a revista da Associação Médica Norte-Americana, conta que, desde o início da pandemia, colegas de profissão vêm relatando um aumento no atendimento de pessoas com a síndrome. Além disso, há, na literatura médica recente, mais de uma dezena de publicações de casos de pacientes diagnosticados com covid-19 que também sofreram a cardiomiopatia do estresse, inclusive jovens, o que tem levantado, na comunidade científica, a dúvida se o Sars-CoV-2 pode causar mais esse problema.

Pressão psicológica

No caso da pesquisa de Cleveland, porém, o interesse foi verificar se o estresse gerado pela pandemia está associado ao aumento da síndrome do coração partido na população em geral. Os dados coletados para o estudo são de pessoas que testaram negativo para covid-19. “Milhões de pessoas estão sofrendo estresse psicológico, social e econômico associado à quarentena, à falta de interação social, às regras de distanciamento físico e, claro, às consequências financeiras da pandemia na vida delas. Acreditamos que o aumento da incidência da síndrome pode estar relacionado a isso”, diz Kalra.

Para fazer a comparação com o período pré-pandêmico, a equipe da Clínica Cleveland avaliou dados de 258 pacientes com sintomas de síndrome coronariana aguda entre 1º de março e 30 de abril. Essas informações foram comparadas às de pessoas atendidas com as mesmas queixas antes da pandemia. O resultado foi um aumento considerado significativo pelos autores. Antes da explosão da covid-19, a incidência de cardiomiopatia do estresse foi de 1,7% Na fase estudada, esse percentual chegou a 7,8%. Além disso, a duração da hospitalização dos indivíduos diagnosticados com a síndrome no período do estudo foi maior, embora não tenha havido diferença na mortalidade.

De acordo com Kalra, o estresse faz o organismo liberar substâncias, como o hormônio cortisol, que, em grandes quantidades e de forma contínua, afetam diretamente o coração. Não só esse órgão, afirma Alison Miller, professora de saúde comportamental da Universidade de Michigan. “Quando enfrentamos o estresse, os sistemas de alerta do nosso organismo são ativados, o que faz sentido. Porém, se esse alerta for mantido indefinidamente, isso pode ser prejudicial à saúde como um todo. Além dos problemas cardiológicos, estamos observando aumento da incidência de doenças mentais”, diz Miller, que não participou do estudo.  (PO)

7,8%
Foi a incidência de casos de síndrome do coração partido atendidos, de 1º de março a 30 de abril deste ano, em um hospital americano. Antes da pandemia, a taxa foi de 1,7%, considerando o mesmo período.
 
 

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