Os três termos do título desta reportagem qualificam o presidente norte-americano, Donald Trump, conforme a sobrinha Mary Trump escreveu em seu livro. O magnata republicano cresceu no seio de uma família disfuncional, filho de um “sociopata” intimidador, o que fez dele um mentiroso narcisista, avaliou Mary. A publicação de Too much and never enough: How my family created the world’s most dangerous man (“Tanto e nunca o bastante: Como minha família criou o homem mais perigoso do mundo”, pela tradução literal) foi antecipada de 28 de julho para a próxima terça-feira.
A menos de quatro meses da eleição presidencial de 3 de novembro, a obra está no topo da lista de best-sellers da Amazon, logo à frente do livro do ex-conselheiro de Segurança Nacional John Bolton, publicado em junho, que descreve Trump como corrupto e incompetente. O irmão mais novo de Trump, Robert, tentou bloquear a publicação do livro de Mary na Justiça de Nova York, mas não obteve sucesso. No entanto, uma ordem de restrição recente contra a escritora ainda está pendente, impedindo-a de falar ou escrever sobre a família, e será avaliada no tribunal na sexta-feira.
O livro é o primeiro sobre o presidente dos EUA escrito por uma parente, a psicóloga Mary. Aos 55 anos, a filha de Fred Jr. — o falecido irmão mais velho de Donald Trump — narra suas experiências dentro de uma “família tóxica”, a partir da casa dos avós. A obra de 240 páginas “esclarece a história sombria da família para explicar como seu tio se tornou o homem que agora ameaça a saúde, a segurança econômica e o tecido social mundial”, explica a editora responsável, a Simon & Schuster.
Em 1981, Fred Jr. morreu de complicações do alcoolismo aos 42 anos. O pai do hoje presidente, Fred Sr., morreu em 1999. Segundo o jornal The Washington Post, no livro a autora combina “história familiar com análise psicológica do tio”. Ela afirma que o tio atende a todos os critérios clínicos para um diagnóstico narcisista, observa o New York Times. Mas seriam necessários testes que o presidente nunca aceitará fazer, acrescentou.
A autora explica como o pai “intimidador” e “sociopata” de Donald o desprezava e zombava dele. E como o atual presidente, sete anos mais novo que Fred Jr., adquiriu “comportamentos distorcidos” e aprendeu “a mentir para ser valorizado” — uma forma de se defender das humilhações do seu próprio pai. Ela também afirma que o presidente americano pagou alguém para passar no vestibular, o que mais tarde permitiu que ele fosse aceito na prestigiada escola de negócios Wharton, da Universidade da Pensilvânia.
“Donald, seguindo o exemplo do meu avô, junto com a cumplicidade, o silêncio e a falta de ação dos seus irmãos e irmãs, destruiu meu pai. Não posso deixá-lo destruir meu país”, escreveu Mary Trump, segundo a emissora CNN. A porta-voz da Casa Branca, Kayleigh McEnany,classificou a obra como “um livro de falsidades”, embora tenha admitido que não a leu. “São acusações ridículas e absurdas que não têm nenhuma verdade”, ressaltou.