Não estava no script. Embora há tempos cientistas alertassem sobre a emergência de micro-organismos com potencial de impactar severamente a saúde global, ninguém esperava tamanha reviravolta nos planos individuais e sociais neste início de nova década. As mudanças que o mundo se viu obrigado a adotar diante da ameaça da covid-19 não são passageiras, segundo especialistas. O novo normal afeta a forma como a saúde pessoal e pública serão manejadas, dizem.
“Hábitos como higiene frequente das mãos, evitar tocar a face sem higienizar as mãos previamente, uso de máscaras faciais em locais públicos, distanciamento físico entre pessoas e evitar aglomerações ainda serão necessários por um tempo. O fim da pandemia não será um evento pontual”, destaca a infectologista Magali Meirelles, membro da diretoria da Sociedade de Infectologia do Distrito Federal (Leia três perguntas para). Do ponto de vista da saúde pública, sistemas de vigilância mais eficazes, melhor comunicação sobre patógenos emergentes, mais investimento em pesquisa e novas formas de atender aos pacientes — incluindo unidades de terapia intensivas (UTIs) remotas — são algumas das adaptações apontadas por pesquisadores.
Recentemente, a empresa de consultoria McKinsey & Company elencou três pontos, considerados críticos pelos especialistas da companhia, dos serviços de cuidados com a saúde no contexto pós-pandêmico. Novos paradigmas para infraestrutura, excelência operacional e novas oportunidades/diversificações no atendimento foram as mudanças consideradas essenciais no que diz respeito a como clínicas e hospitais devem se preparar para desafios semelhantes à covid-19. Esses pontos são detalhados pelos consultores, que sugerem ações como manipulação remota dos equipamentos de assistência a pacientes intubados (desafogando as instalações hospitalares), expansão dos serviços de telemedicina e fortalecimento de parcerias dos setores público e privado.
O novo normal, porém, não está no futuro, quando o Sars-CoV-2 já não se configurar como uma ameaça. À medida que as atividades econômicas e laborais são retomadas em plena pandemia, alterações no estilo de vida e nas relações sociais precisam ser uma realidade, defende Michael Chang, especialista em doenças infecciosas da Universidade do Texas em Houston. “À medida que os testes de covid se tornam mais amplamente disponíveis, será essencial testar toda a população que reentra na força de trabalho, mesmo os indivíduos assintomáticos. Para casos suspeitos e previamente confirmados, o teste de anticorpos também é necessário. Isso pode ajudar a determinar se os indivíduos desenvolveram algum nível de imunidade ao vírus”, diz.
Chang também reforça a necessidade de uma comunicação sincera entre famílias e escolas. “As escolas precisam ter uma boa comunicação com os pais, os filhos precisam ficar em casa se estiverem doentes. O mesmo vale para adultos. Escolas e empresas devem reavaliar os procedimentos de limpeza para garantir que usem a abordagem e os produtos ideais diariamente”, afirma Chang. “Prevenir outro pico nos casos dependerá da resposta duradoura a essa pandemia.”