Correio Braziliense
postado em 05/07/2020 10:55
Oito meses depois de registrar quatro casos de peste bubônica, a Mongólia Interior, na China, teme um surto da doença, com a confirmação, pelo Centro Nacional de Controle Zoonótico, de que 650 pessoas tiveram contato direto ou secundário com duas pessoas que testaram positivo para a Yersinia pestis, bactéria causadora da enfermidade.A cidade de Khov e a região homônima foram isoladas, para evitar uma epidemia. A forma pneumônica — a mais severa da peste — pode ser transmitida entre humanos por meio da inalação de partículas contaminadas. Segundo as autoridades locais, as vítimas, que se encontram em tratamento, são um homem de 37 anos e uma mulher cuja idade não foi revelada.
Há pelo menos 5 mil anos, a Y.pestis circula no mundo. Em 2011, testes genéticos realizados em vítimas da peste negra, que devastou a Europa em meados do século 14, identificaram a bactéria como causadora da epidemia medieval.
Nos desertos e estepes asiáticos, segundo um artigo científico publicado na revista Biossegurança e Saúde por pesquisadores do Centro Geral de Controle e Prevenção de Doenças da Mongólia Interior (região autônoma chinesa entre a Mongólia e a China), o primeiro registro da enfermidade é de 1644. Entre 1901 e 1949, houve 41 surtos, com, pelo menos, 80 mil mortes. A região autônoma chinesa estava livre da peste desde 2004, mas, em novembro do ano passado, quatro pessoas foram infectadas.
Roedores
Assim como nos casos de 2019 da Mongólia Interior, os dois confirmados, agora, na Mongólia, são de indivíduos que vivem em locais onde há grande circulação de roedores, os hospedeiros naturais das pulgas infectadas com a Y. pestis. No estudo publicado na Biossegurança e Saúde, os pesquisadores destacam que 15 cepas da praga foram detectadas em 10 esquilos-da-mongólia e em cinco tipos de pulgas em Sunitezuo Banner, região de duas das quatro vítimas da doença — um casal — em novembro passado.
“Ambos são pastores e vivem em casas de adobe com condições sanitárias pobres, com pilhas de junco em todos os lugares”, informaram os cientistas. Os outros dois pacientes também tiveram contato com animais. O homem esfolou e cozinhou uma lebre, enquanto a mulher pastoreou o rebanho nos 10 dias anteriores aos primeiros sintomas. Ela contou que notou marcas de picadas de pulga no peito, nas costas, e nas extremidades superior e inferior do corpo.
Apesar da gravidade da peste bubônica — até 100% dos infectados morrem, caso não sejam tratados —, o artigo científico mongol demonstrou que, ao menos nos casos de 2019, nenhuma das pessoas que tiveram contato com os pacientes foram contaminados pela Y.pestis. Ainda assim, os autores recomendam “que uma prevenção estrita do espalhamento da infecção entre humanos seja a prioridade máxima” das autoridades de saúde dessa região asiática.
No mundo, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), há de mil a 2 mil casos anuais de peste bubônica. Desde o século passado, a doença foi detectada em 38 países, incluindo o Brasil, com epidemias registradas no Peru, em Madagascar (a mais recente, entre o fim de 2017 e o início de 2018, com 2.575 casos e 221 óbitos) e na República Democrática do Congo, onde foram registrados 10 casos até 16 de junho, com quatro mortes.
Até 100% letal
Em meados do século 14, calcula-se que de 30% a 50% da população europeia tenha sido eliminada pela epidemia Y. pestis
» O que é: a bactéria causadora do tipo de peste mais comum globalmente. É transmitida pela mordida de uma pulga infectada, geralmente hospedada em roedores. O bacilo entra no organismo e viaja pelo sistema linfático, reproduzindo-se no linfonodo mais próximo. Transmissão entre humanos ocorre na forma mais grave, quando o paciente desenvolve pneumonia
» Sintomas: febre súbita, tremores, dores corporais, fraqueza, vômitos. Linfonodos inflamados (os “bubos”) podem aparecer. O tratamento é com antibióticos e, se iniciado cedo, a chance de cura é alta. Mas, se não tratada, a peste mata de 30% a 100% dos pacientes
» Onde ocorre: é encontrada em todos os continentes, mas Madagascar, Peru e República Democrática do Congo são os principais países endêmicos, segundo a OMS
Fonte: Organização Mundial da Saúde
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