O único país da América Latina cujos cidadãos têm autorização para entrada na União Europeia (UE) a partir de hoje é um oásis no mapa pandêmico. Com 14,7% da população acima de 65 anos (faixa etária mais vulnerável a complicações pelo novo coronavírus), o Uruguai destoa dos vizinhos em relação ao avanço da covid-19. Até o fechamento desta edição, contabilizava 932 casos de infecção e 27 mortes. A título de comparação, o Peru, nove vezes mais povoado, registrou 300 vezes mais ocorrências da doença e 350 vezes mais óbitos. O Brasil, por sua vez, amarga mais de 1,35 milhão de infecções e quase 60 mil mortos. Com taxa de letalidade de 2,8%, o Uruguai também diverge do índice mundial, de 4,8%.
O sucesso dos uruguaios na prevenção ao novo coronavírus e no controle pandêmico deve-se à rápida tomada de decisões por parte do governo do direitista Luis Alberto Lacalle Pou e ao uso da tecnologia. Para Adolfo Garcé, professor do Instituto de Ciência Política da Universidad de la República, em Montevidéu, o reconhecimento da UE é “muito justo”. “A política sanitária do Uruguai de combate ao novo coronavírus tem sido muito exitosa”, afirmou ao Correio. Ele cita vários acertos por parte das autoridades federais desde Lacalle Pou ascendeu ao poder, em 1º de março. “O presidente agiu com rapidez e tomou medidas drásticas para reduzir a probabilidade de contágio no mesmo dia em que apareceram os quatro primeiros casos, em 13 de março.” Entre as ações, está o fechamento das fronteiras apenas horas depois da confirmação da chegada do novo coronavírus ao país.
Garcé também entende que o presidente acertou ao não decretar a quarentena compulsória. “Em vez disso, apelou à persuasão, ao uso responsável da liberdade individual”, lembra. As autoridades defenderam um confinamento voluntário, mas obrigaram o uso de máscaras. O respeito pela comunidade científica foi outro diferencial.
Segundo o estudioso, Lacalle Pou organizou um grupo ad hoc de cientistas que tiveram a incumbência de rastrear a propagação do vírus e vigiar a reativação gradual da economia. “Ele utilizou o amplo sistema de bem-estar uruguaio, revitalizado pelo partido Frente Ampla durante seus 15 anos de governo, a fim de mitigar o impacto social da crise sanitária”, acrescentou Garcé. Na última segunda-feira, o país retomou o funcionamento de escolas e universidades, permitindo que 200 mil crianças e jovens voltassem às aulas.
Acordo sanitário
As medidas internas não perderam de vista ameaças vindas de nações vizinhas. Na sexta-feira passada, o Uruguai firmou com o Brasil um acordo de cooperação sanitária na fronteira, a fim de impedir a propagação da covid-19. “Para a política sanitária uruguaia, significa o início de um caminho conjunto com os irmãos brasileiros e um acordo histórico, já que o Uruguai é o primeiro país que acorda com o Brasil uma política sanitária conjunta de fronteiras para o manejo da crise da covid-19”, disse o ministro da Saúde uruguaio, Daniel Salinas.
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“O novo governo assumiu em 1º de março. Doze dias depois, apareceram os primeiros casos da covid-19. Ainda que não tivesse muito tempo para se preparar, conseguiu responder de forma rápida e exitosa.”
Adolfo Garcé, professor do Instituto de Ciência Política da Universidad de la República,
em Montevidéu