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Visitantes seletos

União Europeia confirma a autorização de viagens não essenciais ao bloco a cidadãos de apenas 14 países. Medida objetiva impedir a propagação da covid-19. Brasil e Estados Unidos ficaram excluídos da lista. Chineses serão aceitos mediante princípio da reciprocidade

 

A partir de hoje, a União Europeia (UE) reabre suas fronteiras externas, após mais de três meses de bloqueio, para a entrada de cidadãos de um seleto grupo de 14 países que conseguiram conter o avanço do novo coronavírus. A medida, confirmada oficialmente ontem pelo bloco, também prevê que continuará sendo vedado o ingresso de viajantes oriundos do Brasil e dos Estados Unidos. Das Américas, apenas turistas do Uruguai (leia nesta página) e do Canadá serão aceitos. Consultado pelo Correio, o Ministério das Relações Exteriores do Brasil não se pronunciou sobre o assunto até o fechamento desta edição.

 

Os critérios para a elaboração da lista foram intensamente debatidos durante o fim de semana. Por maioria qualificada, os 27 países-membros do bloco ratificaram, ontem, o acordo. Ficou definido que as fronteiras estarão abertas para pessoas procedentes das seguintes nações: Argélia, Austrália, Canadá, Coreia do Sul, Japão, Geórgia, Marrocos, Montenegro, Nova Zelândia, Ruanda, Sérvia, Tailândia, Tunísia e Uruguai. A China deveria estar também na lista, mas isso somente será possível quando Pequim liberar a entrada de europeus no país, já que a reciprocidade é uma das condições exigidas pela UE.

 

Brasileiros, americanos, russos e indianos — alguns dos maiores visitantes estrangeiros do bloco — continuarão vetados, por não atenderem aos três critérios definidos por Bruxelas: que a tendência de contágios esteja estável ou decrescente; que sejam respeitados critérios internacionais de testagem, vigilância, contenção e rastreio de novos casos; e que o número de casos por 100 mil habitantes seja inferior à média europeia em 15 de junho. A lista será revisada a cada duas semanas, com possíveis inclusões ou exclusões, a depender da situação epidemiológica.

 

Segundo o jornal The New York Times, nas duas primeiras semanas de junho, o bloco europeu registrou, em média, 16 novos casos da covid-19 para cada 100 mil habitantes, enquanto a estatística brasileira estava em 190, e a americana, em 107. Hoje, EUA e Brasil são os dois países mais afetados pela pandemia. O primeiro tem 2,5 milhões de infectados pela covid-19, e o segundo, 1,3 milhão. O números de mortes pela doença nos dois países são, respectivamente, 126 mil e 58 mil.

 

Os presidentes do Brasil, Jair Bolsonaro, e dos EUA, Donald Trump, que mantêm relação próxima, adotaram posicionamentos parecidos ante a pandemia, minimizando o poder letal da covid-19, rejeitando informações científicas e pressionando para a retomada das atividades econômicas. Trump, mesmo com essa postura, autorizou, em março, que a força-tarefa da Casa Branca para o combate à covid-19 divulgasse recomendações de isolamento social. No Brasil, dois ministros da Saúde pediram demissão por se negarem a obedecer às orientações de Bolsonaro em relação à resposta à pandemia. No fim de maio, os EUA impuseram restrições à entrada de passageiros procedentes do Brasil.

 

Impasse

 

Há outras 14 nações que atendem aos requisitos estabelecidos pela Comissão Europeia para entrada no bloco. No entanto, a opção foi por uma lista mais seleta e política. A confiabilidade das estatísticas de diversas nações criou um impasse durante a discussão, deixando de fora diversas nações africanas, americanas e asiáticas, como Venezuela, Angola, Cuba e Vietnã. A decisão de excluir os americanos foi vista como uma crítica à maneira como Trump lida com a pandemia.

 

O critério da reciprocidade também parece ter sido usado arbitrariamente: a condição é aplicada aos chineses, mas não aos argelinos, cujo país mantém suas fronteiras fechadas.

 

A lista, segundo fontes do jornal espanhol El País, provocou tensões entre os integrantes da UE: cada um defendia a abertura para países diferentes, em meio a preferências políticas e ao temor de que erros levem a novos surtos de covid-19. A corrida contra o relógio para aprovar a medida ocorre às vésperas do começo da temporada do verão, fundamental para o turismo no Velho Continente.

 

Embora tenham se comprometido a autorizar apenas viajantes das 14 nações listadas, os 27 países-membros poderão aplicar regras ainda mais restritas, caso julguem necessário. Cada país europeu poderá também decidir se irá impor restrições adicionais, como autoquarentenas para turistas. A recomendação da UE não se aplica à Irlanda ou à Dinamarca, países que gozam de tatus especial no que diz respeito às suas fronteiras. Com relação ao Reino Unido, que passa por um período de transição pós-Brexit, o país continua sendo considerado membro do bloco, para efeito das medidas adotadas ontem. 

 

» Quem pode entrar

 

Lista de países cujos cidadãos 

têm autorização para visitas 

às 27 nações da União Europeia

 

Argélia

Austrália

Canadá

China*

Coreia do Sul

Geórgia

Japão

Marrocos

Montenegro

Nova Zelândia

Ruanda

Sérvia

Tailândia

Tunísia

Uruguai


* Sob critérios de reciprocidade