O partido do presidente Emmanuel Macron sofreu neste domingo (28/6) uma derrota contundente nas eleições municipais francesas, marcadas pela abstenção recorde e pelo avanço dos ecologistas, que conquistaram as prefeituras de várias das principais cidades do país.
Em Paris, a joia da coroa deste pleito, a socialista nascida na Espanha Anne Hidalgo renovou seu mandato com mais de 50% dos votos, à frente de sua principal adversária, a ex-ministra da Justiça Rachida Dati, candidata do partido conservador, que obteve 32%, segundo as primeiras estimativas.
Os Verdes, que avançam com força no tabuleiro político francês há algumas eleições, venceram em várias das principais cidades francesas, como Lyon (centro-leste), Bordeaux (centro-oeste) e Marselha (sudeste), impulsionados pela crescente tomada de consciência dos franceses sobre as problemáticas ambientais.
E em outras, como Besançon (leste), Poitiers (centro) ou Annecy, nos Alpes. "Esta noite venceu o desejo de um ecologismo concreto, um ecologismo de ação", declarou o líder do Europa Ecologia Os Verdes (EELV) e eurodeputado Yannick Jadot.
Os ecologistas se posicionaram como a principal força da esquerda na França, um sinal da mudança política que têm ocorrido em muitos países europeus. Há ministros ambientalistas em Suécia, Finlândia e Áustria e os Verdes estão em plena ascensão na Alemanha.
Estas eleições, celebradas em meio à ameaça de uma nova onda de casos de COVID-19, que só na França matou quase 30.000 pessoas, foram marcadas por uma abstenção histórica.
Apesar da adoção de medidas sanitárias máximas, como o uso obrigatório de máscaras ou a disponibilização de álcool em gel nas seções, apenas quatro em cada dez eleitores convocados às urnas de fato votaram.
Assim que os primeiros resultados foram divulgados, o presidente Emmanuel Macron se disse "preocupado com a baixa participação".
A oposição também e, em particular, o líder da esquerda radical, Jean-Luc Mélenchon, qualificou as eleições de uma "greve cívica", assim como a finalista das eleições presidenciais de 2017, a ultradireitista Marine Le Pen.
Sem implantação local e ameaçado por um voto de castigo, o partido do presidente francês, o República em Marcha (LREM), criado alguns meses antes das presidenciais de 2017, perdeu em quase todas as grandes cidades francesas.
O primeiro-ministro, Edouard Philippe, cuja popularidade disparou por sua gestão da pandemia, salvou, em parte, a honra do governo, ao obter a prefeitura da cidade portuária de Le Havre (oeste), seu reduto eleitoral.
"Esta noite, sentimos certa decepção", admitiu a porta-voz do governo francês, Sibeth Ndiaye.
Próxima remodelação do governo?
Após esta bofetada eleitoral, tudo indica agora que Emmanuel Macron anunciará nos próximos dias uma ampla remodelação de seu governo que lhe permita chegar mais bem posicionado às eleições presidenciais de 2022.
A grande incógnita é se esta mudança de gabinete será realizada pelo primeiro-ministro, apesar de sua vitória folgada neste domingo.
Além de carecer de ancoragem territorial sólida, para o cientista político da Science Po Gaspard Estrada, "os candidatos do partido governamental sofrem as consequências da impopularidade do mandatário", desgastado pela revolta dos "coletes amarelos" e as longas greves contra sua reforma da previdência.
Na cidade de Perpignan, perto da fronteira com a Espanha, venceu com folga o candidato de extrema direita Louis Aliot, ex-companheiro de Marine Le Pen, que obteve 54% dos votos.
Com a vitória nesta cidade de mais de 100.000 habitantes, Aliot conquistou para a ultradireita a maior cidade desde Toulon (1995-2001). "É uma mensagem excelente para o futuro", disse Aliot ao comemorar sua vitória.
Segundo consulta do instituto de pesquisas Ifop, se as eleições presidenciais fossem celebradas amanhã, Macron estaria ombro a ombro com a candidata de ultradireita Marine Le Pen no primeiro turno, e venceria no segundo turno com 55%, onze pontos a menos do que em 2017.
Para tentar virar a página rapidamente da debacle anunciada, Emmanuel Macron tem previsto discursar à nação na segunda-feira para responder às propostas feitas pela Convenção Cidadã sobre o Clima, uma assembleia de 150 cidadãos eleitos por sorteio para imaginar políticas ambiciosas contra as mudanças climáticas.
Esta convenção será a "resposta à onda verde" deste domingo, destacou a Presidência francesa.
De qualquer forma, Macron terá que encontrar um equilíbrio entre o desejo por medidas ecológicas substanciosas, defendidas pela ala à esquerda de seu partido, e as escolhas liberais de seus primórdios.