Alho, gengibre, cúrcuma e outras sementes de plantas herbáceas são encontradas no popular mercado de Taez, no sul do Iêmen. Os iemenitas recorrem cada vez mais às ervas e especiarias para lutar contra a pandemia do novo coronavírus, em um país em guerra e sem medicamentos.
"Os preços dos remédios aumentaram de maneira exagerada. As pessoas têm que comprar plantas, como o alho, para se proteger do coronavírus", afirmou à AFP Munir Ahmed Ghaleb, um comprador do mercado de Al Shanini.
A pandemia se propaga no Iêmen desde maio e provocou pelo menos 225 mortes, mas o número de vítimas pode ser muito maior. O governo não tem recursos para organizar testes em larga escala e os hospitais com frequência não conseguem determinar as causas dos óbitos.
O país, o mais pobre da península arábica, é cenário de uma guerra há cinco anos e enfrenta a pior crise humanitária do mundo, segundo a ONU.
O conflito no Iêmen envolve as forças leais ao governo, que recebem apoio de uma coalizão militar liderada pela Arábia Saudita, e os rebeldes huthis, apoiados pelo Irã, que assumiram o controle de parte do norte do país.
Com 600 mil habitantes, a cidade de Taez está sob controle das forças governamentais, mas se encontra cercada pelos rebeldes huthis que a bombardeiam com frequência.
"Muitas pessoas vêm comprar ervas medicinais, que têm virtudes eficazes para lutar contra o vírus", afirmou à AFP Bashar al Asar, um dos vendedores do mercado de Al Shanini, que registrou um forte aumento de clientes nas últimas semanas.
Ele não tem dúvidas, mesmo sem provas científicas, que os produtos naturais são "garantias, convincentes e eficazes" para lutar contra a doença e estimular o sistema imunológico.
Taez, uma das cidades mais afetadas pela guerra iniciada em 2014, registra 50 mortes na pandemia, de acordo com dados oficiais. Mas os números oficiais podem ser muito elevados em um país com um sistema de saúde em ruínas.
A London School of Hygiene and Tropical Medicine, da Universidade de Londres, calculou que, sem medidas de prevenção no Iêmen, o país poderia registrar entre 180 mil e 3 milhões de casos de novo coronavírus durante os três primeiros meses da pandemia.
O estudo mostrou que o país poderia alcançar até 11 de milhões de pessoas infectadas, com entre 62 mil e 85 mil mortos, no pior cenário.
A doença aumenta o sofrimento de milhões de iemenitas que estão ameaçados pela fome, sobretudo os que vivem em campos improvisados para deslocados, onde não há água potável.
E para piorar ainda mais o cenário, o país enfrenta outras epidemias, de cólera, malária e dengue. A covid-19 é uma catástrofe a mais para o precário sistema de saúde, especialmente em Taez.
"Temos apenas três centros de isolamento, 40 camas e seis respiradores artificiais, escassez de medicamentos e falta de funcionários", afirmou à AFP o médico Ishraq al Sibai, porta-voz do comitê nacional de luta contra o novo coronavírus.
Ele também adverte que recorrer às plantas pode ter "efeitos negativos" sobre o estado de saúde.