Mundo

No limite psicológico


Uma das cidades do mundo mais atingidas pela covid-19, Nova York começa a ter noção do quanto a pandemia tem afetado seus profissionais de saúde. Pesquisa feita com 657 funcionários de um dos principais hospitais da cidade, o NewYork-Presbyterian, da Universidade de Columbia, mostra altos níveis de estresse agudo, ansiedade e depressão na equipe.

As entrevistas ocorreram no pico da disseminação do coronavírus, entre 9 e 24 de abril, com médicos, enfermeiros e auxiliares. Dos participantes, 57% disseram ter experimentado sintomas de estresse agudo, como pesadelos, incapacidade de parar de pensar na covid-19 e um sentimento de estar constantemente em alerta. Quase a metade (48%) apresentou resultado positivo para sintomas depressivos e um terço (33%), para ansiedade.

“Esse é o maior estudo nos Estados Unidos a documentar o impacto psicológico entre os profissionais que trabalham nas linhas de frente no auge da pandemia da covid-19 em Nova York (…) Nossas descobertas confirmam o que suspeitávamos: as pessoas que trabalham nesse ambiente experimentaram níveis significativos de estresse agudo e outros efeitos psicológicos”, enfatiza, em comunicado, Marwah Abdalla, líder do estudo, publicado na revista General Hospital Psychiatry.

Insônia e solidão também foram relatados por boa parte do grupo — 71% e 65%, respectivamente. Para Marwah Abdalla, a alta prevalência desses problemas sugere que o estresse em trabalhar no hospital é fisica e emocionalmente desgastante para esses profissionais “Mas ainda não sabemos se esse estresse terá consequências a longo prazo e se a sensação de que eles estavam fazendo algo significativo e intencional ajuda a isolá-los desse estresse”, afirma a cientista. Ainda assim, ela alerta que sintomas de estresse agudo que persistem por mais de um mês podem levar à síndrome do estresse pós-traumático (TEPT).

Isolamento

Também de acordo com a pesquisa, três em cada quatro participantes disseram ficar muito preocupados com a possibilidade de transmitir o coronavírus a familiares e pessoas queridas. E a maioria relatou aflição também com a necessidade de ficar distante de parentes e amigos, além de angústias surgidas devido às incertezas em torno da pandemia. “Os profissionais de saúde têm duplo ônus de cuidar de pacientes e se preocupar com a possibilidade de adoecer seus entes queridos”, enfatiza Abdalla.

Para reduzir o estresse, os entrevistados contaram que recorrem a prática de exercícios físicos, psicoterapia, grupos virtuais de apoio e práticas religiosas/espirituais. A maioria manifestou interesse em ter acesso a um terapeuta individual. “Nossas descobertas destacam a necessidade de estudar a eficácia dos recursos de bem-estar que estavam disponíveis para os profissionais de saúde durante o período do estudo e de determinar se recursos adicionais podem ser necessários para melhor protegê-los durante a próxima crise de saúde que possa surgir na cidade” avalia Abdalla.

57%
dos funcionários entrevistados em um hospital em Nova York relataram sintomas de estresse agudo

48%
apresentaram resultado positivo para sintomas depressivos