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Novo caso em Atlanta reaviva indignação nos protestos contra o racismo

Um homem afro-americano foi morto por um policial branco na última sexta-feira (12/6) em protestos na cidade de Atlanta, nos EUA

A morte de um afro-americano nas mãos de um policial branco, sexta-feira em Atlanta, aumentou a indignação nos protestos já acalorados no país contra o racismo e a brutalidade da força de segurança que continuaram no domingo em todo o mundo. 

O legista do condado de Fulton classificou como homicídio a morte de Rayshard Brooks, de 27 anos, que morreu depois de atingido por um tiro de um policial.

No sábado, centenas de manifestantes bloquearam uma rodovia interestadual e incendiaram um restaurante da rede de Wendy: a morte de Brooks aconteceu do lado de fora do estabelecimento. 

Dezenas de pessoas foram presas, segundo a CNN, citando a polícia de Atlanta, no sul da Geórgia. 

A prefeita Keisha Lance Bottoms, cujo nome é citado como possível vice do candidato presidencial democrata Joe Biden, anunciou no sábado que a chefe de polícia de Atlanta, Erika Shields, com mais de duas décadas de trabalho nesse departamento, ofereceu sua renúncia "imediata" ao cargo.

"Não acredito que isto tenha sido um uso justificado da força", afirmou Bottoms.

O incidente ocorreu no momento em que os Estados Unidos enfrentam grandes protestos provocados pela morte em 25 de maio do afro-americano George Floyd, vítima da violência policial enquanto estava sob custódia. 

Floyd morreu depois que um policial branco de Minneapolis o sufocou com o joelho sobre seu pescoço por quase nove minutos. 

Os protestos que se espalharam pelo país primeiro e depois pelo mundo, evidenciando legados da escravidão, colonialismo e violência branca contra a comunidade negra e outras minorias, além da brutalidade da polícia nos Estados Unidos.

"Uma raiva legítima"
 
Segundo um relatório oficial, Brooks estava dormindo em seu carro do lado de fora de um restaurante da rede de Wendy, e os funcionários ligaram para a polícia para reclamar que ele estava bloqueando os clientes. 

Brooks estava bêbado e resistiu quando dois policiais brancos tentaram prendê-lo, disse o Gabinete de Investigação da Geórgia (GBI).

Imagens do incidente, divulgadas pela polícia neste domingo, mostram uma briga entre policiais e o suspeito, que consegue pegar a pistola taser (arma imobilizadora) e escapae. 

O GBI sustenta que "Brooks virou-se e apontou o taser para o policial, que usava sua arma", mas as imagens mostram que o suspeito vira as costas para o policial quando ele atira e o fere. 

Brooks foi levado para um hospital, mas morreu após a cirurgia. Um oficial ficou ferido. 

O policial que atirou em Brooks foi demitido no sábado e identificado pelas autoridades locais como Garret Rolfe, enquanto o segundo policial foi enviado em funções administrativas, segundo a ABC News. 

O promotor do condado de Fulton, Paul Howard, disse que seu gabinete decidirá se apresentará acusações penais contra Rolfe durante a semana, informou o jornal Atlanta Journal-Constitution.

O advogado que representa a família da vítima, Chris Stewart, denunciou o uso desproporcional da força. 

"Na Geórgia, o taser não é uma arma letal. Os reforços chegaram dois minutos depois, eu acho. Eles poderiam ter cercado e prendido ele. Por que tinham que matá-lo? (O policial) tinha outras opções além de atirar nas costas", afirmou a jornalistas. 

Brooks tinha quatro filhos e comemorou o aniversário da filha de oito anos na sexta-feira, disse o advogado. 

"O mais doloroso para mim é assistir ao vídeo, acordar e assistir ao vídeo", disse Decatur Redd, primo de Brooks. "E eu tenho dois filhos pequenos, eles assistem o mesmo vídeo", acrescentou, claramente abalado. 

A ex-parlamentar afro-americana Stacey Abrams disse no domingo que a raiva dos manifestantes "é legítima". 

"Um homem foi morto porque dormiu em uma estrada e sabemos que não é um incidente isolado", afirmou. 

Este é o 48º caso de tiroteio envolvendo policiais investigados pelo GBI desde o início do ano, informou o jornal Atlanta Journal-Constitution. Em 15 tiroteios foram registradas mortes. 

Na Europa, os protestos contra o racismo e a violência policial continuaram neste domingo, em Berlim, na Alemanha, com a formação de uma corrente humana com o devido distanciamento social pela pandemia de COVID-19.