Mundo

Entre o medo e a esperança

China confirma 57 novos casos de infecção pela covid-19. Países da União Europeia começam a restabelecer medidas de livre circulação

De um lado, a China, assombrada com o risco de uma segunda onda da doença. De outro lado, a Europa — aliviados com o forte declínio do número de casos, Alemanha, Bélgica, França e Grécia restabeleceram a livre circulação, na manhã de hoje, com todos os países da União Europeia. A Áustria tomará a mesma medida a partir da zero hora de amanhã (19h de hoje, em Brasília). Chineses e europeus vivem realidades distintas. Ontem, a China registrou um aumento no registro de infecções pela covid-19. Segundo as autoridades de Pequim, 57 novos casos confirmados de contaminação pelo coronavírus foram identificados em 24 horas, incluindo 36 na capital, o maior número diário em dois meses.

Graças a controles rigorosos, uso de máscara e operações de confinamento, a epidemia estava sob controle na China, onde a doença surgiu no fim do ano passado, em Wuhan (centro do país). No entanto, um novo foco de contaminação foi detectado no sul de Pequim, no mercado atacadista de Xinfadi, que vende carne, peixe, legumes, entre outras coisas. A descoberta resultou no confinamento de 11 bairros residenciais nas proximidades.

Um homem de 56 anos, que trabalha como motorista de ônibus no aeroporto e que foi ao mercado de Xinfadi antes de adoecer, está entre os casos relatados ontem. Centenas de policiais civis e militares, muitos deles usando máscaras e luvas, foram vistos no sábado por jornalistas da agência France-Presse (AFP) perto do mercado de Xinfadi. Todas as pessoas que trabalham neste mercado ou que visitaram o local desde 30 de maio devem passar por um teste de triagem, assim como os moradores dos bairros vizinhos. “As pessoas estão assustadas”, disse um vendedor de frutas e legumes à AFP em outro mercado da cidade. Em algumas áreas de Pequim, os moradores se enclausuram em suas casas e as lojas e restaurantes estavam fechados no domingo.

Recuperação
Na Itália, onde a epidemia matou mais de 34 mil pessoas, o primeiro-ministro, Giuseppe Conte, pediu a preparação de um plano de recuperação econômica “corajoso”. Enquanto isso, os turistas retornavam em grande número a Veneza, por ocasião da reabertura do Palácio Ducal. “É uma emoção muito forte, como um primeiro dia de aula”, testemunhou Maria Cristina Gribaudi, presidente da Fundação dos Museus Cívicos de Veneza. Em pronunciamento à nação, o presidente da França, Emmanuel Macron, confirmou a reabertura de restaurantes e de escolas a partir de hoje. “A luta contra a epidemia ainda não acabou, mas estou satisfeito com essa primeira vitória contra o vírus”, afirmou. “A partir de amanhã, todo o território, com exceção de Mayotte (uma ilha no Oceano Índico) e da Guiana, onde o vírus ainda circula ativamente, (...) passará para a zona verde, o que permitirá, em particular, uma retomada mais intensa dos trabalhos e a reabertura de cafés e restaurantes” na região de Paris, anunciou o chefe de Estado.

A Grécia também está “pronta para receber turistas neste verão” com segurança, assegurou o premiê, Kyriakos Mitsotakis. Quanto à União Europeia, ela assegurou, no sábado, o fornecimento de vacinas contra o novo coronavírus, concluindo um acordo com o grupo farmacêutico AstraZeneca, que garante o repasse de 300 milhões de doses quando a imunização for descoberta.
 
 
Nos bancos da igreja, fotos dos 6.500 mortos
A Catedral de Lima tornou-se uma enorme galeria de fotos, ontem, com imagens dos 6.500 mortos por covid-19 no Peru para celebrar uma missa de honra, sem público, por motivos de segurança sanitária, no 91º dia de confinamento do país pela pandemia. Durante a cerimônia, o arcebispo de Lima, Carlos Castillo, lembrou-se daqueles que morreram do novo coronavírus e alertou para o risco de mais mortes por fome. “Seria terrível se os mortos que vierem não forem pelo coronavírus, mas pela fome”, disse o prelado, depois de pedir para rezassem pela memória das vítimas na missa transmitida ao vivo pela tevê estatal do Peru. “Tempos ainda mais difíceis estão chegando”, alertou, em uma alusão tácita ao desemprego, na qual milhares de peruanos caíram nas 13 semanas de confinamento. O Ministério da Economia estima o número de desempregados em 2 milhões devido ao fechamento de empresas pela pandemia, em um país com 70% de economia informal. Todos os bancos e paredes da catedral exibiam fotos com os nomes dos mortos pelo novo coronavírus.  O Peru é o segundo país da América Latina com mais casos de covid-19 (225 mil) e quase 6.500 mortes.