A empresa americana Zoom reconheceu que se dobrou às exigências do governo da China e encerrou as contas de ativistas nos Estados Unidos e em Hong Kong que pretendiam utilizar o aplicativo de videoconferência para recordar a brutal repressão chinesa da Praça Tiananmen (Paz Celestial).
Em um comunicado publicado na quinta-feira à noite, o Zoom promete adotar as ferramentas tecnológicas para limitar ao território do país as exigências dos governos, para que interrompam as atividades consideradas ilegais.
O aplicativo, que viu sua popularidade explodir durante o confinamento pela pandemia do coronavírus, é objeto de preocupação pela liberdade de expressão.
Na quarta e na quinta-feiras, ativistas dos direitos humanos nos Estados Unidos e em Hong Kong anunciaram que três contas foram suspensas, sem explicação, antes da organização de encontros virtuais previstos para homenagear a memória das vítimas de Tiananmen, um episódio tabu na China.
Na madrugada de 3 para 4 de junho de 1989, uma intervenção militar na Praça Tiananmen, em Pequim, acabou de maneira violenta com sete semanas de manifestações a favor da democracia na China.
O Zoom reconheceu que fechou temporariamente as contas e justificou que, "como qualquer empresa no planeta, devemos respeitar as leis em vigor nas jurisdições em que operamos", sem apresentar mais explicações.
No comunicado mais recente, o Zoom afirma que foi alertado pelo governo chinês sobre a celebração de quatro reuniões públicas on-line para recordar Tiananmen.
"O governo chinês nos informou que esta atividade era ilegal na China e solicitou ao Zoom que cancelasse as reuniões e as contas que as organizariam", explica a empresa com sede na Califórnia, que indica que agiu porque os encontros teriam a participação de usuários da China continental.
Zoom acrescenta que, como sua tecnologia atual não permite "retirar participantes específicos de um encontro, ou bloquear os participantes de um determinado país", a empresa tomou a decisão de "encerrar três dos quatro encontros e suspender, ou suprimir, as contas hóspedes associadas" aos mesmos.
Dois sobreviventes de Tiananmen que moram nos Estados Unidos, Wang Dan e Zhou Fengsuo, assim como o organizador em Hong Kong da vigília anual que recorda os acontecimentos de Tiananmen, Lee Cheuk-yan, anunciaram que suas contas foram encerradas temporariamente.
Depois, a empresa reativou as três contas e informou que adotará um sistema que permita bloquear, ou retirar, participantes procedentes de alguns países.
Como outras empresas de tecnologia ocidentais, o Zoom enfrenta as exigências de governos autoritários em mercados importantes.
A Apple reconheceu em 2017 que retirou de sua App Store chinesa aplicativos de VPN, sistemas que permitem burlar o bloqueio da internet local. O grupo também construiu na China um centro de dados para armazenar as informações pessoais dos usuários, com o objetivo de respeitar uma legislação sobre segurança cibernética que exige que o armazenamento aconteça em território chinês.