A milhares de quilômetros da China, arqueólogos israelenses reconstituíram o traçado de um trecho da Grande Muralha esquecido pelos historiadores e construído nas estepes da Mongólia para controlar as populações nômades, segundo um estudo que será publicado nesta terça-feira (9/6).
"A construção desta parte da Grande Muralha é um grande projeto da Idade Média que paradoxalmente é muito pouco citado em documentos históricos", disse o professor Gideon Shelach-Lavi, membro da equipe de estudos asiáticos da Universidade Hebraica de Jerusalém e diretor da pesquisa.
É a primeira vez que essa parte da muralha é estudada detalhadamente, talvez por sua localização geográfica muito remota, sugere o arqueólogo que, para determinar o traçado exato, viajou com sua equipe e usou imagens de satélite e aéreas.
A Grande Muralha, incluída no Patrimônio Mundial da Unesco, é um conjunto de fortificações militares construídas no norte da China desde o século III a.C., com o objetivo de defender o país de invasões do norte. Seu comprimento total é estimado em cerca de 9.000 km, ou mesmo 21.000 km, se as partes ausentes forem consideradas.
Mais ao norte, estendem-se os 737 quilômetros de uma muralha de terra descoberta pela equipe do professor Shelach-Lavi. Localizada nas estepes e coberta de grama, forma a "Linha do Norte", abrangendo a China, a Rússia e a Mongólia atualmente.
O trecho também é conhecido como "Muralha de Gengis Khan", em referência ao famoso guerreiro nascido no século XII e que, às custas de conquistas, fundou o imenso império mongol.
"No começo, os pesquisadores pensaram que esta seção tivesse sido construída para defender a população local do Grande Khan e suas hordas nômades", explicou Shelach-Lavi. "Mas parece que não foi um muro militar para se proteger de invasões".
O tamanho relativamente moderado da muralha (cerca de dois metros) e sua localização em áreas baixas, e, portanto, não muito estratégico, sugerem que o objetivo era monitorar e controlar os movimentos das populações nômades e seus rebanhos.
"De certa forma, era uma espécie de ferramenta política interna", conclui o pesquisador.