Com a Itália em desconfinamento progressivo, o líder da extrema-direita Matteo Salvini, ex-vice-primeiro ministro e ex-ministro do Interior, comandou, ontem, em Roma, uma manifestação para exigir a renúncia do atual governo. “Um gesto simbólico para fazer ouvir a voz dos cidadãos que não se entregam, dos que exigem uma burocracia reduzida a nada, um ano de paz fiscal e uma redução de 15% nos impostos e uma verdadeira reforma da Justiça”, alertou Salvini em uma rede social.
Políticos de direita e de extrema-direita se juntaram a centenas de ativistas numa caminhada pela Via del Corso, a artéria central da capital italiana, até a Piazza del Popolo. Eventos desse tipo estão proibidos devido às medidas sanitárias de combate à pandemia da covid-19, que foi severa no país, deixando quase 33,5 mil mortos.
Inicialmente anunciada como uma manifestação silenciosa em respeito ao distanciamento social, a mobilização — realizada no feriado da proclamação da República — rapidamente mudou de perfil, transformando-se em uma marcha política com Salvini à frente. Ao lado dele, Giorgia Meloni, presidente de outro partido de extrema-direita, o Fratelli d’Italia; e Antonio Tajani, número dois da Forza Italia, partido de direita de Silvio Berlusconi.
Os cerca de mil manifestantes seguraram uma bandeira italiana de 500 metros de comprimento. Foi a primeira participação pública de Salvini em uma concentração desde que a pandemia no novo coronavírus começou a castigar a Itália, em meados de fevereiro.
De acordo com uma pesquisa divulgada pela agência de notícias local AGI, juntos, os três partidos têm 47% das intenções de voto, em comparação com 36% da maioria do governo formada pelo Partido Democrata e pelo Movimento 5 Estrelas (M5E, antissistema).
“Há uma necessidade de dinheiro imediato para os italianos, enquanto nos prometem o fundo de recuperação para 2021”, disse Salvini à imprensa, referindo-se a um plano europeu para enfrentar a crise econômica causada pela pandemia. Salvini também se opôs à decisão do governo de conceder aos migrantes uma permissão de residência temporária para que trabalhem no setor agrícola.
Alerta
Ainda traumatizada, mas ansiando pela volta à normalidade, a Itália flexibiliza a quarentena desde o início de maio. Ao celebrar os 74 anos da República, o presidente Sergio Mattarella elogiou a “unidade moral” do país no enfrentamento à covid, mas advertiu que o desafio persiste. “A crise não terminou e tanto as instituições como os cidadãos terão que enfrentar suas consequências e seus traumas”, assinalou Mattarella.
Na última etapa da suspensão das restrições, as fronteiras devem ser reabertas, hoje. Além disso, os italianos poderão viajar livremente entre as regiões.