Em meio à crescente tensão entre a China e Hong Kong, a tradicional vigília realizada na ex-colônia britânica em memória da repressão na Praça da Paz Celestial, foi proibida este ano, pela primeira vez em três décadas. Pelo menos oficialmente, a justificativa é o risco de disseminação do novo coronavírus.
Todos os anos, o evento atrai uma multidão, que se reúne para homenagear as vítimas da intervenção do Exército chinês, em 4 de junho de 1989, na praça, localizada no centro de Pequim. É o único lugar na China onde o episódio é relembrado, refletindo as liberdades únicas de Hong Kong sob o princípio “um país, dois sistemas”, instituído desde que o território foi devolvido ao gigante asiático, em 1997.
Segundo um texto com data de ontem, ao qual a agência de notícias France Presse teve acesso, a polícia de Hong Kong indica que não autoriza o evento programado para a próxima quinta-feira, por ser “uma ameaça importante à vida e à saúde do público”.
Apesar de sua interconexão com a China, berço da atual pandemia, Hong Kong conseguiu conter a propagação do vírus. Foram registrados no território semiautônomo mil casos de contágio e quatro mortes.
No ano passado, a celebração do 30º aniversário de Tiananmen havia ocorrido em um tenso contexto político, enquanto o Executivo local pró-Pequim tentava impor uma polêmica lei para permitir extradições para a China continental. A proposta acabou retirada de pauta.
No entanto, ativistas pró-democracia se mobilizaram em protestos que duraram meses, que, agora, culminaram com uma resposta da China. Na semana passada, o Parlamento chinês adotou uma polêmica lei sobre segurança nacional em Hong Kong, em represália à mobilização, apesar das ameaças de sanções do governo dos Estados Unidos.
Os quase 3 mil deputados da Assembleia Nacional Popular (ANP) chinesa aprovaram a medida que reativou os protestos em Hong Kong. O anúncio do resultado da votação foi celebrado com aplausos, que duraram vários minutos, no solene Palácio do Povo em Pequim e na presença do presidente Xi Jinping.
Em Hong Kong, os opositores democratas à influência do governo central afirmam que a medida abre o caminho para um retrocesso sem precedentes das liberdades na metrópole financeira de sete milhões de habitantes. A medida também foi rechaçada por países ocidentais, entre eles, Estados Unidos e Reino Unido.