Em mais um dia de protestos contra a morte do afro-americano George Floyd, 46 anos, durante uma ação policial em Minneapolis, manifestantes voltaram às ruas em várias cidades dos Estados Unidos. Apesar de a maior parte dos atos terem transcorrido pacificamente, houve registros de confrontos com a polícia em Nova York, Los Angeles, Chicago e Filadélfia.
Em Nova York, uma mulher jogou uma bomba artesanal, conhecida como coquetel Molotov, dentro de uma viatura. Os quatro agentes que estavam no interior do veículo conseguiram sair sem ferimentos, e a mulher foi detida, sob a acusação de “tentativa de assassinato de um policial”. Na cidade de Los Angeles, vários carros da polícia foram depredados.
Na noite de sexta para ontem, duas pessoas morreram e centenas acabaram detidas em manifestações pelo país. Em Detroit, um jovem de 19 anos foi baleado e não resistiu. Em Oakland, dois policiais foram atingidos por tiros e um deles não sobreviveu.
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, escreveu em sua conta oficial no Twitter, ontem, que o governo federal pode intervir nos protestos pelo país. “Atravessar as fronteiras dos estados para incitar a violência é um crime federal!”, diz a publicação do republicano.
O líder da Casa Branca escreveu, também, que governadores e prefeitos liberais devem ficar “muito mais rigorosos”. “Ou o governo federal intervém e faz o que deve ser feito, e isso inclui o uso ilimitado do poder militar e de muitas prisões”, acrescentou.
Mais cedo, fontes disseram à Associated Press que o Pentágono emitiu ordem para deixar soldados do Corpo da Polícia Militar, a polícia do Exército dos Estados Unidos, de prontidão, caso seja necessária a mobilização das forças para ajudar as polícias das cidades onde a situação está mais crítica.
O governador de Minnesota, Tim Walz, anunciou a mobilização de 13 mil soldados da Guarda Nacional de seu estado, um destacamento que não é conhecido desde a Segunda Guerra Mundial. Ele alertou sobre uma situação “perigosa” que apareceu nas ruas na noite de ontem, acrescentando que havia solicitado a assistência do secretário de Defesa.
Walz reprovou os protestos violentos. “Não se trata da morte de George. Não se tratam de iniquidades reais. Trata-se de caos”, avaliou. A opinião não foi compartilhada nas ruas. “Preciso que olhem nos meus olhos e sintam. Isso é dor, isso é dor”, disse a manifestante Naeema Jakes.
George Floyd morreu depois que o policial Derek Chauvin o prendeu e imobilizou por vários minutos ajoelhado sobre seu pescoço. Um vídeo mostra a abordagem, ocorrida, supostamente, porque a vítima tentou pagar uma loja com uma nota falsa de US$ 20. Na sexta-feira, o agente foi acusado por assassinato em terceiro grau, por provocar uma morte de forma involuntária e por homicídio culposo.
As acusações não foram suficientes para acalmar a revolta dos manifestantes, indignados com mais um óbito de um cidadão negro sob custódia policial. A abalada nação acumula profundas feridas pela desigualdade racial.
Família
Em Washington, aconteceram confrontos com agentes do Serviço Secreto perto da Casa Branca, na madrugada de ontem. Trump disse que assistiu a “todos os movimentos” que os agentes tomaram. “Não poderia ter me sentido mais seguro”, destacou. O americano escreveu num tuíte: “Eles deixaram os ‘manifestantes’ gritarem e reclamarem o quanto quisessem, mas sempre que alguém ficava muito brincalhão ou fora da linha, eles rapidamente avançavam, com força — não sabiam o que os havia atingido”.
A família de George Floyd, para a qual Trump afirmou que ligou, considerou a detenção do policial um primeiro passo “no caminho da justiça, mas tardia e insuficiente”. “Queremos uma acusação por homicídio doloso com premeditação, e queremos ver os outros agentes (envolvidos) presos”, enfatizou a família num comunicado.
O ex-presidente Barack Obama, primeiro negro a chegar à Casa Branca, disse compartilhar a “angústia” de milhões de pessoas pela morte de Floyd e que o racismo não deveria ser “normal” nos Estados Unidos de 2020.