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Trump rompe com a OMS

Em meio à pandemia, presidente dos EUA anuncia fim do relacionamento com a agência da ONU em razão de alinhamento com Pequim, também alvo de ataques



Um mês depois de suspender os repasses financeiros à Organização Mundial da Saúde (OMS), o presidente Donald Trump anunciou, ontem, o fim das relações entre os Estados Unidos e a agência das Nações Unidas. O chefe da Casa Branca justificou a medida, tomada em meio à pandemia da covid-19, pelo fato de, segundo ele, a entidade ser muito tolerante com a China, onde surgiu o novo coronavírus. Em declarações à imprensa, Trump também divulgou restrições a Pequim por recentes ações ligadas à autonomia de Hong Kong.

“Como não fizeram as reformas solicitadas e muito necessárias, encerraremos nosso relacionamento com a Organização Mundial de Saúde e redirecionaremos esses fundos para outras necessidades de saúde pública mundial urgentes e globais”, ressaltou Trump.

Os Estados Unidos foram o principal contribuinte no orçamento da OMS, no ano passado, com um repasse superior a US$ 400 milhões. Prevendo um corte definitivo por parte de Washington, lançou, esta semana, uma nova fundação independente para doações privadas, que espera que lhe dê maior controle para destinar as doações filantrópicas e públicas a problemas prementes.

Nas últimas semanas, Trump vinha subindo o tom em relação à agência da ONU. Dez dias atrás, ele acusou a organização de ser um “fantoche” da China desde que a crise sanitária eclodiu. Na ocasião, advertiu que o congelamento de fundos se tornaria permanente a menos que a agência fizesse “melhoras substanciais”.

Há dois dias, o líder republicano sinalizou que novas medidas estavam prestes a serem tomadas ao enfatizar que os EUA iriam redirecionar as verbas inicialmente destinadas à OMS para “outras necessidades urgentes de saúde pública”. “O mundo precisa de respostas da China sobre o vírus. Devemos ter transparência”, cobrou.

Pequim nega com veemência as acusações de Washington de que teria minimizado as ameaças quando o vírus surgiu na cidade de Wuhan, no fim do ano passado. As autoridades chinesas afirmam que os Estados Unidos tentam se esquivar de suas responsabilidades perante a OMS e seu fracasso em conter a pandemia.

Hong Kong

O embate entre Washington e Pequim intensificou-se ao longo da semana por conta de outra frente de atrito: a nova lei de Pequim que, segundo Washington e seus aliados ocidentais, reduz a autonomia de Hong Kong. “A ação do governo chinês contra Hong Kong é a mais recente de uma série de medidas que diminuem o prestigioso status da cidade”, disse, ontem, Trump, considerando a medida, uma “tragédia para o mundo”.

O presidente anunciou que vai impedir a entrada de cidadãos chineses que representam um “risco” potencial à segurança do país. “Durante anos, o governo chinês espionou para roubar nossos segredos industriais. (...)  Emitirei um decreto para garantir ainda mais a pesquisa universitária vital de nossa nação e suspender a entrada de certos cidadãos chineses que identificamos como possíveis riscos à segurança”, afirmou.

Trump também determinou o início de um processo para eliminar as isenções comerciais usufruídas por Hong Kong, uma vez que “não há mais autonomia o suficiente para justificar o tratamento especial que concedemos ao território”.

Pouco antes, os Estados Unidos e o Reino Unido instaram a China a abordar “sérias preocupações” com a autonomia de Hong Kong em uma sessão do Conselho de Segurança da ONU convocada pelos dois países e rejeitada por Pequim. “Qualquer tentativa de usar Hong Kong para intervir nos assuntos internos da China estará condenada ao fracasso”, reagiu o embaixador chinês Zhang Jun.