À medida em que paÃses reabrem as atividades econômicas, a Organização Mundial da Saúde (OMS) reforçou o alerta de uma possÃvel segunda onda de casos da pandemia do novo coronavÃrus e recomendou cautela nessa fase de transição.
"Precisamos estar cientes do fato de que a doença pode aumentar a qualquer momento, não podemos fazer suposições de que apenas porque está em declÃnio ela continuará em declÃnio", avisou o diretor do programa de emergências da OMS, Mike Ryan. "Ainda temos alguns meses para nos preparar para uma segunda onda, podemos ter um segundo pico nesta onda".
Nesta terça, os casos confirmados em todo o mundo superaram 5,5 milhões, de acordo com um levantamento em tempo real da Universidade Johns Hopkins. O total de mortos é de 346.700, mas as estatÃsticas provavelmente são mais altas devido a diferentes definições e taxas de teste, atrasos e suspeitas de subnotificação.
Maria Van Kherkove, epidemiologista lÃder da resposta da OMS à pandemia, comentou que uma caracterÃstica dos coronavÃrus é sua capacidade de se disseminar em determinadas situações e eventos de "super propagação". "E estamos vendo em várias situações nessas configurações fechadas. Quando o vÃrus tem uma oportunidade, ele pode se transmitir rapidamente". No último fim de semana, a imprensa alemã divulgou que uma missa na cidade de Frankfurt deixou mais de 40 pessoas contaminadas.
Ainda não se sabe como o vÃrus vai desenvolver ao longo do tempo, mas Mike Ryan disse há duas semanas que ele poderia 'nunca ir embora'. "Esse vÃrus pode se tornar um vÃrus endêmico nas nossas comunidades. Pode nunca ir embora. O HIV nunca foi embora", afirmou Ryan. "Não estou comparando as duas doenças, mas acho que é importante ser realista: ninguém pode prever quando ou se essa doença vai desaparecer".
Algumas das perguntas sem respostas de Ryan são a reação do vÃrus a variações de estações do ano, possÃveis mutações que o tornem mais ou menos letal, o tempo de imunidade de uma pessoa que se recuperou e o perÃodo necessário para produzir uma vacina.
Um vÃrus endêmico é aquele em que as populações de uma determinada região precisam conviver e que se manifesta ao longo do tempo. No Brasil, são doenças endêmicas a malária, a dengue e a febre amarela, por exemplo.
Em entrevista ao Estadão na segunda, a cientista-chefe e diretora executiva da OMS, Soumya Swaminathan, afirmou que o cenário mais plausÃvel pode envolver "ondas epidêmicas recorrentes, intercaladas com perÃodos de transmissão de baixo nÃvel.
"Os paÃses que estão assumindo o controle de seus próprios riscos enquanto saem dos bloqueios se sairão melhor e poderão evitar grandes segundas ondas se puderem interromper a transmissão através de um forte sistema de saúde pública capaz de detectar casos precocemente e uma população em alerta", disse.
Ainda que faltem informações precisas sobre a época, especialistas consideram que pandemia da gripe espanhola, ocorrida há cerca de um século, teve pelo menos três grandes ondas. O surto de H1N1 também teve duas ondas.
Reaberturas
No fim de semana, os franceses decidiram permitir a realização de cerimônias religiosas em todo o paÃs. A Itália reabriu academias e ginásios nesta semana, e o Japão suspendeu o estado de alerta contra a pandemia. O governo italiano vai começar o recrutamento de 60 mil voluntários para monitorar a conformidade de suas medidas de segurança.
Ainda na segunda, o primeiro-ministro japonês Shinzo Abe disse que se os paÃses baixarem a guarda a doença "vai se espalhar muito rápido". "Precisamos ser vigilantes". Na Espanha, as duas cidades mais impactadas pela pandemia - Madri e Barcelona - estão reduzindo o lockdown a partir desta semana.
Nos Estados Unidos, o paÃs mais atingido pela epidemia, milhares de americanos relaxaram o isolamento social durante o Memorial Day, feriado nacional em homenagem aos mortos em combate. Reabertas recentemente, algumas praias ficaram lotadas, assim como os balneários do Lago de Ozarks, no Missouri. No Texas, uma festa reuniu cem pessoas na piscina de um clube de Houston.
No fim de semana, Deborah Birx, coordenadora da equipe médica do governo, se disse "muito preocupada" com as aglomerações no feriado. "Realizar atividades fora de casa é bom. Mas isso não muda o fato de que as pessoas precisam ser responsáveis e manter certa distância", disse. (Com agências internacionais)