Como forma de pressionar Rússia e China, o governo de Donald Trump tem cogitado a possibilidade de realizar um novo teste nuclear. A ideia teria surgido no último dia 15, em uma reunião de altos funcionários das agências de segurança nacional, segundo o jornal americano The Washington Post. Os participantes não chegaram a uma definição, mas concordaram em deixar “a discussão em aberto”.
De acordo com jornal americano, que cita um alto funcionário do governo e dois ex-funcionários, todos em anonimato, o debate surgiu depois que autoridades americanas alegaram que Rússia e China estão realizando testes nucleares de baixo rendimento e subterrâneos. Moscou e Pequim negaram, e Washington não forneceu evidências de suas alegações.
Nesse cenário, o argumento dos apoiadores da ideia é de que demonstrar capacidade para realizar um teste “rapidamente” é uma tática de negociação útil, considerando o momento em que Washington tenta concluir um acordo tripartido com a Rússia e a China sobre o uso de armas nucleares.
Para especialistas, porém, a ideia pode aumentar as tensões no cenário internacional, com consequências a longo prazo nas relações entre as potências nucleares. “Isso também acabaria com qualquer possibilidade de evitar uma nova corrida armamentista nuclear. Acabaria com a estrutura global para o controle de armas”, afirma, em comunicado, Beatrice Fihn, da Campanha Internacional para Abolir Armas Nucleares (ICAN), o grupo que ganhou o Prêmio Nobel da Paz de 2017. Beatrice Fihn acredita que um teste nuclear realizado pelos EUA poderia “nos levar a uma nova Guerra Fria”.
Céus abertos
Desde 1945, ao menos oito países realizam coletivamente cerca de 2 mil testes nucleares, sendo que mais da metade foi realizada pelos Estados Unidos. O último teste nuclear americano ocorreu em 1992, em Nevada. A operação foi descrita como um teste para “garantir a segurança das forças de dissuasão”.
Recentemente, o presidente americano anunciou a intenção de retirar os EUA do Tratado de Céus Abertos, depois de acusar a Rússia de violá-lo. O tratado, que entrou em vigor em 2002, autoriza os países signatários a realizar voos de observação sobre os territórios de outros estados para verificar movimentos militares.
É o terceiro acordo internacional de defesa que Trump decide retirar os Estados Unidos. Antes, houve a saída do pacto com o programa nuclear iraniano, denunciado em 2018. No ano passado, o país deixou de fazer parte do INF, o acordo internacional sobre mísseis terrestres de médio alcance.
Petroleiros no Caribe: Irã ameaça retaliações
O presidente iraniano, Hassan Rouhani, anunciou que poderá tomar medidas retaliatórias caso Washington cause problemas com petroleiros iranianos que levam combustível à Venezuela. “Se nossos navios petroleiros no Caribe ou em qualquer lugar do mundo tiverem problemas causados por americanos, eles estarão encrencados”, disse Rouhani em uma conversa telefônica com o emir do Catar, segundo a agência de notícias semioficial Mehr. Cinco petroleiros levam 1,3 milhão de barris de gasolina para o país latino e estão se aproximando do Caribe, onde os americanos aumentaram a presença naval alegando conduzir uma operação antidroga. Os carregamentos causam um impasse diplomático entre Irã, Venezuela e os EUA, que têm sanções econômicas impostas a ambos os países. Hassan Rouhani disse esperar “que os americanos não cometam um erro.”