As florestas tropicais enfrentam um futuro incerto sob as mudanças climáticas, mas estudos publicados na revista Science sugerem que elas podem continuar armazenando grandes quantidades de carbono em um mundo mais quente se os países limitarem as emissões de gases de efeito estufa. Há receio na comunidade científica de que o aquecimento global possa reduzir o estoque de CO2 caso o crescimento das árvores diminua ou o desmatamento aumente, acelerando as mudanças climáticas.
Agora, uma equipe de pesquisa internacional, incluindo cientistas brasileiros, fez medições de mais de meio milhão de árvores em 813 florestas nos trópicos para avaliar quanto carbono é armazenado por aquelas que crescem, hoje, sob diferentes condições climáticas. O estudo revela que as florestas tropicais continuam a armazenar altos níveis de carbono sob altas temperaturas, mostrando que, a longo prazo, esses biomas podem lidar com o calor até um limiar estimado de 32ºC da temperatura diurna.
No entanto, essa descoberta positiva só é possível se as florestas tiverem tempo para se adaptarem, permanecerem intactas e se o aquecimento global for estritamente limitado para evitar levar as temperaturas globais a condições além do limite crítico. “Nossa análise revela que, até um certo ponto de aquecimento, as florestas tropicais são surpreendentemente resistentes a pequenas diferenças de temperatura. Se limitarmos as mudanças climáticas, elas poderão continuar a armazenar uma grande quantidade de carbono em um mundo mais quente. O limiar de 32 graus destaca a importância crítica de cortar urgentemente nossas emissões para evitar empurrar muitas florestas além da zona de segurança”, diz o principal autor, Martin Sullivan, da Universidade de Leeds e da Universidade Metropolitana de Manchester, no Reino Unido.
Inédito
As florestas liberam dióxido de carbono na atmosfera quando a quantidade de carbono adquirida pelo crescimento das árvores é menor do que a perdida pela mortalidade e pela decadência delas. O estudo é o primeiro a analisar a sensibilidade climática a longo prazo, com base na observação direta de florestas inteiras entre os tópicos. A pesquisa sugere que a temperatura tem o maior efeito sobre os estoques de carbono desses biomas, reduzindo o crescimento dos espécimes, com a mortalidade das árvores devido à seca como o segundo fator-chave.
Os pesquisadores concluem que as florestas tropicais têm capacidade para se adaptarem a algumas mudanças climáticas, em parte por causa de sua alta biodiversidade, pois as espécies de árvores mais capazes de tolerar novas condições climáticas crescem bem e substituem as menos adaptadas. Mas maximizar essa resiliência climática potencial depende de ações que mantenham as florestas intactas.