O mundo registrou, ontem, o número recorde de casos de infecção pelo novo coronavírus desde o começo da pandemia. “Ainda temos um longo caminho a percorrer. Nas últimas 24 horas, 106 mil casos foram reportados à Organização Mundial da Saúde (OMS), a cifra mais alta em um único dia desde o início da pandemia”, declarou Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da entidade. Ele advertiu que cerca de dois terços dos casos foram registrados em quatro países, mas não informou quais seriam essas nações. O último informe da ONU aponta Estados Unidos (1,5 milhão de casos), Rússia (308.705), Brasil (291.579) e Reino Unido (249.616).
Em entrevista ao Correio, o norte-americano Martin J. Blaser — professor de medicina e microbiologia e diretor do Centro de Biotecnologia Avançada e de Medicina da Rutgers University (em Nova Jersey) — afirmou que a covid-19 chegou a diferentes locais em momentos distintos. “Onde ela alcançar, tende a se disseminar, a menos que as pessoas pratiquem distanciamento social extenso. Se o número de casos está subindo, é porque a doença se espalha por locais onde não se pratica tanto essa norma”, comentou.
Blaser reconhece que, em algumas áreas, as taxas de infecção caíram drasticamente. Ele defende um alívio cauteloso do isolamento. “Não podemos ficar confinados pelos próximos dois anos. Se flexibilizarmos as restrições com cuidado, os casos começarão novamente, mas poderiam estar em um patamar baixo e mais gerenciável, dentro da capacidade dos hospitais”, explicou. “As mortes, atualmente, refletem eventos que ocorreram um ou dois meses atrás. O intervalo de tempo dificulta a previsão e o gerenciamento.”
Para John M. Barry — professor da Faculdade de Saúde Pública e Medicina Tropical da Tulane University (em Nova Orleans, Louisiana) e autor de The great influenza: the story of the deadliest pandemic in history (“A grande influenza: a história da epidemais mais letal da história”) —, a pandemia está longe de acabar. “A menos e até que uma vacina interrompa a tranmissão generalizada. Nós mal estamos no fim do começo da pandemia”, afirmou.
Barry avalia que a covid-19 começou lentamente em muitos países e, agora, ganha força. “O fracasso em cumprir com orientações sobre o bom senso em saúde pública é parte do problema. O Brasil, como vocês sabem, registrou na terça-feira 25% de todas as mortes no planeta.” Ele advertiu que alguns lugares dos Estados Undos estão retomando a atividade econômica cedo demais. “As razões para isso são impulsionadas parcialmente pela política e parcialmente pela necessidade econômica real”, admitiu. (RC)