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Covid-19 dá trégua na Europa, mas dispara na África do Sul

Os números de ontem, na Europa, deram lugar a uma mistura de alívio e esperança. A Espanha registrou, entre sábado e domingo, 1.214 novos casos de infecção pelo novo coronavírus e 87 mortes. Pela primeira vez em dois meses, o total de óbitos em 24 horas ficou abaixo dos 100. No auge da pandemia no país, no começo de abril, as mortes diárias chegavam a 950. A Itália (675 contágios e 145 falecimentos) e a Alemanha (381 casos e 21 óbitos) também emitiram sinais de alento. Neste último país, a Bundesliga teve prosseguimento, ontem, com uma nova partida do Bayern de Munique, líder da liga de futebol alemão e um dos times mais tradicionais da Europa. A equipe derrotou o Union Berlim por 2 x 0 em um jogo de portões fechados, sem apertos de mão e sem crianças acompanhando os jogadores.

Em meio ao clima de otimismo, milhões de europeus puderam aproveitar um fim de semana com relativa liberdade. A França abriu muitas praias. Várias delas foram literalmente inundadas de pessoas ansiosas para dar um mergulho depois de dois meses em casa. “Eu realmente senti falta da praia. Estávamos apenas esperando por isso: o anúncio da reabertura!”, celebra Nathanael, de 28 anos, em Saint-Malo (oeste). Neste país que registrou mais de 28 mil mortes, as viagens ainda são limitadas a um raio de 100km de casa, e as praias estão reservadas para atividades “dinâmicas”, sem a possibilidade de se deitar na areia para se bronzear.

Na Inglaterra, as pessoas correram para os parques, dificultando o respeito às medidas de distanciamento social, no primeiro fim de semana de flexibilização do confinamento. Por sua vez, a Espanha pretende reabrir as fronteiras aéreas para espanhóis e residentes no país. 

Apesar do aparente arrefecimento da pandemia de covid-19 no Velho Continente, a Organização Mundial da Saúde (OMS) fez uma advertência preocupante, na última quinta-feira. “A pandemia não acabou. (…) Estou  muito preocupado com uma dupla onda — no inverno, nós poderemos ter uma segunda onda de covid e outra sazonal de gripe ou de sarampo”, disse Hans Henri P. Kluge, diretor regional da OMS para a Europa. 

Preocupação
A África do Sul anunciou, ontem, 1.160 novos casos do novo coronavírus, o balanço diário mais elevado desde que começaram os registros, em 1º de março, segundo o Ministério da Saúde. No total, o país registrou 15.515 casos de covid-19. A turística província do Cabo Ocidental acumula quase 60% dos infectados. Além disso, foram reportados três novos óbitos, elevando o total a 263 mortes. A economia mais industrializada da África tem o maior número de casos do continente, seguida do Egito (11.719 casos, 612 falecidos).

A população da África do Sul está confinada desde 27 de março. O governo lançou uma estratégia de testes em massa, aos quais 460.873 pessoas se submeteram até o momento. No entanto, alguns especialistas sanitários advertiram que esta tática tem seus limites, pois os resultados dos exames podem demorar até duas semanas para ficarem prontos.

O relato de um médico cubano no front da Itália
 
 
 
“Eu me chamo Leosvel Pérez Gutiérrez, sou de Vertientes, na província cubana de Camagüey. Eu me formei em medicina há 24 anos e, desde 2007, atuo como médico geral integral. Acumulo cinco missões internacionais. Em 2014, enfrentei a epidemia de ebola, em Serra Leoa. Depois, estive na Guatemala, na Venezuela e Guiné Equatorial. Eu e 52 companheiros chegamos à cidade de Crema, a sudeste de Milão, em 22 de março. Após o desembarque, não fizemos nenhum tipo de quarentena e, no dia seguinte, revisávamos os protocolos de atuação. 

A pandemia do novo coronavírus golpeava a região havia um mês. Fui designado para um hospital de campanha criado pela Marinha italiana no estacionamento do Hospital Geral de Crema. Nós éramos 18 médicos e 14 enfermeiros. No início, começamos a medicar, a dar assistência psicológica e a ajudar na alimentação e na higiene de pacientes de covid-19. Nós trabalhávamos em escaladas de 6, 8 e 12 horas, em turnos. Sentimos medo em relação a nos proteger. Não um medo infundado, mas um reflexo de autocuidado. Cumprimos todas as medidas de biossegurança e os protocolos de atuação.

Depois de um mês, os casos de infecção começaram a diminuir de forma notável. Passei a trabalhar em um asilo. No exercício da medicina, é algo muito desagradável testemunhar o agravamento do estado clínico de um paciente. Em fração de minutos ou horas, alguns pacientes passam da situação estável para complicações. Uma experiência que me marcou foi a de um paciente que perdera toda a família. De repente, uma pessoa de idade avançada fica praticamente só. Tivemos que ser psicólogos algumas vezes. Nós costumamos avaliar a saturação de oxigênio nos pacientes; a redução é um parâmetro que indica uma piora no quadro clínico e que leva ao estresse respiratório. Alguns apresentam tosse seca, que se agrava, acompanhada da falta de ar. A febre alta ou persistente também é outro parâmetro que aponta complicação.” (RC)