Bobos, incompetentes e sem graça. Isso é o que as pessoas pensam sobre robôs, segundo dois estudos do Instituto de Tecnologia da Geórgia, nos Estados Unidos. Como essas máquinas deixaram há tempos de serem personagens de ficção científica e começam a ganhar espaço em áreas como educação e assistência a idosos, os pesquisadores da Faculdade de Computação Integrativa da instituição decidiram investigar como os humanos as enxergam. O resultado indica que, ao menos por enquanto, os robôs não conquistaram a simpatia que se esperava.
Originalmente, os estudos tinham sido programados para testar o viés de gênero na relação humanos e robôs. Os pesquisadores queriam saber se as pessoas tendem a acreditar que as máquinas às quais se atribuem características do sexo feminino são menos competentes para trabalhos ditos masculinos e vice-versa. A resposta a essa pergunta é “não”.
“Isso nos surpreendeu. Para alguns empregos, houve uma preferência por determinado gênero, mas pequena e não significativa. Por exemplo, uma tendência maior a escolher o robô masculino para entregador de pacotes. Mas realmente algo muito pequeno”, diz Kanton Rogers, aluno de PhD do instituto e um dos autores dos estudos, que ainda não foram publicados.
Humanização
A roboticista Ayanna Howard, principal autora, destaca que, embora os robôs não sejam sencientes, à medida que as pessoas interagem cada vez mais com eles, começam a humanizar as máquinas. Howard estuda o que dá certo e o que dá errado na integração dos robôs na sociedade e, segundo ela, muito disso tem a ver com a maneira como as pessoas se sentem em relação a eles.
“Os robôs programados para fazer vigilância não são socialmente atraentes, mas, quando os vemos, ainda podemos agir da mesma forma que fazemos quando encontramos um policial”, diz Howard. Por outro lado, há robôs propositalmente projetados para despertar emoções nos humanos e, para a pesquisadora, as pessoas tenderiam a enxergá-los como inteligentes. Mas não foi o que o estudo mostrou.
Nos questionários, os robôs humanoides se apresentaram por meio de vídeo para os entrevistados, que foram aleatoriamente recrutados, tinham entre 20 e 70 anos e diploma de nível superior. Os participantes classificaram as competências profissionais dos robôs em comparação às habilidades humanas em algumas tarefas complexas ou simples.
“Os resultados nos deixaram perplexos porque as coisas que as pessoas pensavam que os robôs eram menos capazes de fazer são, na verdade, coisas que eles fazem bem”, diz Howard.
Uma das profissões julgadas, por exemplo, era a de cirurgião. Existem robôs Da Vinci, comuns em salas cirúrgicas, usados por médicos justamente por permitirem fazer manobras com mais precisão — o humano opera a máquina remotamente, enquanto ela executa os movimentos. Porém, os entrevistados afirmaram que robôs não têm competência suficiente para isso. As máquinas também foram subestimadas na tarefa de segurança. Os participantes disseram que elas não poderiam fazer vigilância, quando já há grandes empresas especializadas em robôs vigilantes.
Cumulativamente, os 200 participantes nos dois estudos pensaram que os robôs também fracassaram como babás, terapeutas, enfermeiras, bombeiros e, especialmente, como comediantes. Por sua vez, os entrevistados julgaram que as máquinas podem se sair bem nos serviços domésticos, como entregadores de pacotes, recepcionistas, e guias turísticos.
Os pesquisadores não sabem dizer o que determinou os vieses de competência. Ayanna Howard especula que parte da antipatia por robôs pode ter influência de estereótipos explorados por filmes, como associar as máquinas à violência contra as pessoas.
Gênero
Apesar da falta de viés sexista, os participantes prontamente atribuíram gêneros aos robôs humanoides. Se um deles dissesse “Olá, meu nome é James” com uma voz masculina, as pessoas o identificariam como masculino. Se falasse “Olá, meu nome é Mary” em uma voz feminina, elas concordariam que seria do gênero feminino.
Alguns robôs cumprimentaram dizendo “Oi” com uma voz neutra e, ainda assim, a maioria dos participantes atribuiu um gênero a eles. A escolha mais comum foi pelo gênero masculino, seguido de neutro e, depois, feminino.
Para Howard, essa foi uma importante lição do estudo para desenvolvedores de robôs. “Os desenvolvedores não devem forçar um gênero. As pessoas o determinam de acordo com suas próprias experiências. Dê ao usuário esse direito. Não reforce os estereótipos de gênero”, recomenda.
Alguns roboticistas defendem, inclusive, a não construção de robôs na forma humanoide, para desencorajar o viés de gênero e outras humanizações das máquinas. Howard, porém, discorda. “Os robôs podem ser bons para a interação social. Eles podem ser muito úteis nos centros de atendimento a idosos para fazer companhia. Também são babás melhores do que deixar a tevê cuidando das crianças”, ressalta.
"Os resultados nos deixaram perplexos porque as coisas que as pessoas pensavam que os robôs eram menos capazes de fazer são, na verdade, coisas que eles fazem bem”
Ayanna Howard, roboticista e principal autora dos estudos
Ayanna Howard, roboticista e principal autora dos estudos