Desinfetantes são uma ótima arma contra o coronavírus. Mas apenas para a limpeza de superfícies externas. Diante do aumento de casos de intoxicação por ingestão desse tipo de produto em Nova York, cientistas esclarecem: em vez de se proteger contra a Covid-19, tomar ou injetar as substâncias antimicrobianas pode matar.
Desde quinta-feira, hospitais novaiorquinos relatam um aumento de pacientes que passaram mal ao ingerir esses químicos, possivelmente sob influência do pronunciamento do presidente Donald Trump, que sugeriu aos médicos investigarem se beber ou injetar desinfetante poderia combater o Sars-CoV-2.
A fala do mandatário foi bastante criticada pela comunidade médica, mas muita gente levou — e ainda está levando — a sério a ideia levantada por ele. Em fevereiro, Trump sugeriu que a substância antimalária cloroquina poderia curar a Covid-19, levando ao sumiço do medicamento das prateleiras. No Brasil, foi preciso vincular a compra do remédio à retenção de receita para evitar a automedicação.
Alerta
“É extremamente importante usar produtos desinfetantes de acordo com as instruções no rótulo. Os desinfetantes nunca devem ser injetados, ingeridos ou aplicados na pele. Esses produtos destinam-se apenas à superfície para matar vestígios do vírus que podem estar vivendo em casas, hospitais ou locais de trabalho”, alertou ontem, em nota, Steve Caldena, CEO da Associação de Produtos Comerciais e Domésticos dos Estados Unidos. “Não há absolutamente nenhum desinfetante, limpador, alvejante ou outro remédio caseiro que deva ser injetado ou ingerido para proteger contra a Covid-19. A ingestão de desinfetantes, alvejantes ou qualquer outro produto de limpeza doméstica, nesse caso, pode resultar em uma ida ao pronto-socorro, ou pior.”
Diane P. Calello, diretora médica do Centro de Controle de Envenenamento da Faculdade de Medicina da Universidade de Nova Jérsei, explica o que pode acontecer caso alguém faça uso desses produtos de forma incorreta. “Não é algo apenas ineficaz, é altamente perigoso e pode ser fatal. Alvejante, água oxigenada e outros desinfetantes simplesmente não se destinam ao uso dentro do nosso delicado sistema circulatório. Se injetados, eles podem rapidamente causar danos ao cérebro, pulmões e outros órgãos vitais e até levar à morte.”
O Centro de Controle de Doenças dos EUA, órgão vinculado ao governo federal, também se manifestou e pediu, no site, que as pessoas não usem esses produtos da forma sugerida por Donald Trump — que, todavia, não chegou a recomendar esse tipo de aplicação. O presidente afirmou que “médicos deveriam testar essa ideia”.
Apesar dos alertas científicos, o professor do departamento de medicina de emergência do Hospital Universitário de Rutgers Lewis Nelson teme que a fala do presidente seja mais forte que as evidências médicas, como foi no caso da cloroquina. “Há uma grande preocupação de que as pessoas injetem soluções desinfetantes em resposta a essas recomendações perigosas. É imperativo que informemos o público sobre essa prática. Nós vimos o resultado disso no hospital, e é terrível.” (PO)
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