Uma semana depois de o Pentágono acusar Teerã de realizar “manobras perigosas” nas águas internacionais do Golfo Pérsico, o presidente Donald Trump disse, ontem, ter determinado às forças americanas que ataquem qualquer embarcação iraniana que se aproximar de forma ameaçadora da frota do país. A escalada de tensão na região coincide com o lançamento do primeiro satélite militar do Irã, anunciado pela Guarda Revolucionária.
“Ordenei que a Marinha dos Estados Unidos dispare e destrua toda e qualquer embarcação iraniana que assediar nossos navios no oceano”, postou Trump no Twitter. Há poucos dias, Washington denunciou que 11 lanchas iranianas navegaram perto de navios americanos em “alta velocidade”.
O vice-secretário de Defesa dos EUA, David Norquist, não informou se os protocolos de combate no Golfo foram modificados. “O que foi enfatizado é que todos os nossos navios têm direito à legítima defesa”, ressaltou Norquist, em entrevista coletiva sobre a declaração de Trump.
“O que o presidente disse envia uma mensagem importante ao Irã”, disse, por sua vez, o general John Hyten, vice-presidente do Estado-Maior Conjunto. “Sabemos como aplicá-la em nossas regras de engajamento. Elas se baseiam no direito inerente de autodefesa contra intenção e atos hostis. Isso é tudo o que precisamos para tomar as medidas corretas”, acrescentou.
Reação
Em resposta ao anúncio do chefe da Casa Branca, um porta-voz militar iraniano declarou que, em vez de “intimidar os outros”, Trump deveria se dedicar a salvar os EUA da crise da Covid-19. O país é o mais afetado pela pandemia, com mais de 842 mil casos e uma marca superior a 46 mil mortes.
“Se os americanos fossem inteligentes e competentes, eles retirariam suas tropas (do Oriente Médio) para salvar o país da crise de coronavírus”, provocou o brigadeiro-general Abdolfazl Shékarchi, em entrevista à agência semi-oficial iraniana Isna.
Para o governo iraniano, Washington apresentou uma “versão hollywoodiana” do que aconteceu na semana passada. Pelo relato de Teerã, os americanos teriam bloqueado a passagem de um navio iraniano, no início de abril, exibindo “comportamento perigoso e ignorando avisos” da embarcação.
Embate
Em meio à nova disputa no Golfo, a Guarda Revolucionária celebrou o sucesso do lançamento de seu primeiro satélite militar, que abre um outro ponto de fricção com o governo Trump. Washington sustenta que o programa iraniano acoberta o desenvolvimento de mísseis. Teerã nega a acusação e insiste que seu desenvolvimento aeroespacial é pacífico, transparente e cumpre as obrigações internacionais.
Por meio de um comunicado, Israel denunciou o lançamento — que até a noite de ontem não havia sido verificado por fonte independente —como uma “fachada para o desenvolvimento (empreendido) pelo Irã de tecnologia balística avançada”. Segundo o governo de Benjamin Netanyahu, a República Islâmica teria violado a resolução 2231 do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU).
Por essa resolução, Teerã não pode se envolver “em nenhuma atividade relacionada a mísseis balísticos projetados para transportar cargas nucleares, incluindo o disparo de projéteis usando essa tecnologia de mísseis”. No Twitter, John Bolton, ex-conselheiro de Segurança Nacional de Trump, disse que o lançamento comprova que mais pressão deve ser exercida sobre o Irã. “Os aiatolás não diminuíram a ritmo apesar do coronavírus”, disse ele.
No início de fevereiro, o Irã lançou, sem sucesso, um satélite de observação científica, chamado Zafar (Vitória, em persa), alguns dias antes do 41º aniversário da Revolução Islâmica.
A rivalidade entre Teerã e Washington aumentou em desde 2018, quando Trump se retirou unilateralmente do tratado sobre o programa nuclear iraniano. E se intensificou em janeiro deste ano, depois que um ataque com um drone dos EUA matou no Iraque o general Qassem Soleimani, comandante da Força Quds, responsável pelas operações no exterior da Guarda Revolucionária.