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Petróleo continua em queda e já 'vale menos do que uma pizza'

Nesta terça, vários países-membros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) se reuniram por videoconferência, para analisar a "situação dramática" do mercado

Londres, Reino Unido - A agitação no mercado petroleiro, que despencou pela falta de demanda decorrente da pandemia de coronavírus, persistiu nesta terça-feira (21), depois que, nos Estados Unidos, os produtores tiveram de pagar para vender. "Nunca pensei que seria possível que o petróleo americano chegasse a valer menos do que uma pizza, ou uma fatia de pizza", disse Jameel Ahmad, chefe de estratégia de divisas e pesquisa de mercado na FXTM.

"Era impensável, mas se tornou realidade para os operadores que o preço do cru americano fosse negativo pela primeira vez na história", completou Ahmad. Nesta terça, depois de uma queda histórica na segunda, o barril de petróleo para entrega em maio, negociado em Nova York, voltou a operar no azul, mas o preço do barril com entrega para junho teve queda histórica de 43%. 

A cotação do barril de WTI, cujo contrato expirava nesta terça, caiu na segunda pela primeira vez na história a níveis negativos, a -37,63 dólares, o que significa que os proprietários dos contratos de compra pagaram para encontrar compradores para o petróleo físico. Nesta terça, depois de vários vai-e-vens, este contrato fechou a 10,01 dólares. 

Esta recuperação, no entanto, não antecipa uma mudança na tendência para as próximas semanas. O barril para entrega em junho, que será a referência a partir de quarta, caiu 43%, a 11,57 dólares, algo nunca visto desde a criação destes contratos futuros, em 1983. Durante a sessão, chegou a cair para US$ 6,50 a unidade. 

Em Londres, o barril de Brent do Mar do Norte, para entrega em junho, caiu 24,4% a 19,33 dólares, sua pior queda desde o início da guerra do Golfo, em 1991. 

Cotações no chão

 
"O WTI e o Brent registraram perdas importantes hoje", constatou David Madden, analista da CMC Markets, com "uma atenção muito particular no Brent", que esteve um pouco à margem da queda histórica do WTI na segunda-feira. O mercado do petróleo vem caindo há várias semanas.

Os preços negativos fazem os operadores terem de pagar para encontrar compradores que fiquem com o petróleo fisicamente. Esta é uma tarefa complicada no momento em que quase não há capacidade de armazenamento pela queda da demanda e devido a uma produção que segue acima das necessidades do mercado.

Nos Estados Unidos, o armazenamento é um grande problema, pois o WTI é entregue em um único lugar no interior do país, diferentemente da Europa, onde há pontos de armazenamento e sua proximidade com o mar permite que se armazene o petróleo em petroleiros. A National Gas Intelligence informa uma taxa de preenchimento de 80%, segundo o analista Ipek Ozkardeskaya, da Swissquote Bank. 

Isto é suficiente para "dar um choque nos produtores de petróleo e animá-los a tomar medidas mais significativas para apoiar os preços", diz Fiona Cincotta, da Gain Capital. Vários países produtores se reuniram em teleconferência nesta terça para analisar a "situação dramática do mercado", reconheceu nesta terça a Organização de Países Exportadores de Petróleo (OPEP).

A Rússia, principal aliado externo da Opep, não participou do encontro virtual, informou à  AFP uma porta-voz do ministro de Energia russo, Alexander Novak. A participação da Arábia Saudita, maior exportador mundial, tampouco foi confirmada. O cartel e seus principais aliados, como a Rússia, se comprometeram na semana passada a reduzir sua produção petrolífera em proporções recorde, mas os cortes permanecem insuficientes em relação à queda da demanda.

A Arábia Saudita, líder do carte, informou nesta terça-feira que está "vigiando de perto" os mercados petroleiros e que está disposta a adotar qualquer medida adicional, após a queda dos preços, segundo a agência oficial de imprensa, SPA. O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, solicitou nesta terça que seu gabinete elabore um plano de emergência para ajudar a indústria do petróleo e de gás.

"Nunca deixaremos quebrar o nosso grande setor americano de petróleo e gás", prometeu o presidente em um tuíte. Na publicação, Trump anunciou que os departamentos de Energia e o Tesouro americano têm a missão de "colocar fundos à disposição para que essas empresas muito importantes e os empregos (gerados por elas) sejam mantidos no futuro".

O petróleo é vítima da queda do consumo por causa das medidas que reduziram a mobilidade em todo o mundo, como forma de combater o novo coronavírus. No entanto, sua produção está mantida, em um mercado que antes mesmo da crise já estava sobrecarregado.