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Um governo de emergência

Num acordo que encerra 16 meses de crise política, Netanyahu e Gantz aceitam dividir a administração do país, em meio à pandemia do novo coronavírus. Pelo acertado, o atual premiê permanecerá no cargo até outubro de 2021 e, depois, cederá a vez ao ex-rival



Cinco dias depois do fim do prazo estipulado pelo presidente de Israel, Reuven Rivlin, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu e seu ex-adversário nas urnas Benny Gantz concordaram, ontem, em formar um governo de unidade. O acordo, firmado em meio à pandemia da Covid-19, poderá encerrar 16 meses de uma crise política sem precedentes na história do país.

Já descrente na possibilidade de um acerto, Rivlin havia solicitado ao Parlamento, na quinta-feira passada, que encontrasse um candidato para formar o novo governo. O anúncio de ontem saiu da residência oficial do premiê por meio de um comunicado, para grande alívio de muitos israelenses. Sem o pacto, o país caminhava para a realização da quarta eleição em apenas um ano.

Netanyahu e Gantz se reuniram pouco antes do início de Yom Hashoah, o Dia do Holocausto, que acontece entre o pôr do sol de ontem e a noite de hoje em Israel. Após várias tentativas frustradas, o encontro alcançou o objetivo de selar a união entre os dois rivais políticos. Na véspera, milhares de israelenses, respeitando o distanciamento social, se manifestaram em Tel Aviv, na esperança de impedir uma aliança entre os dois políticos.

Meio a meio
O acerto, com validade de três anos, prevê a formação de um governo bipartite, com Netanyahu como primeiro-ministro por 18 meses iniciais, e Gantz nos 18 meses seguintes. Pelo combinado, haverá um número igual de ministros dos dois campos e a possibilidade de outras partes se juntarem para tirar o país da crise.

Segundo o acordo alcançado, as duas partes estabelecerão um governo de emergência para combater o coronavírus, que deixou, até o momento, mais de 13 mil infectados no país e 170 mortos, com consequências na economia, como o desemprego, que disparou nas últimas semanas, apesar do bom desempenho antes da pandemia.

O principal negociador de Netanyahu, Yariv Levin, assinalou que o governo também visa executar a soberania de Israel nas colônias Judeia e Samaria, expressão usada para evocar a anexação dos territórios ocupados na Cisjordânia desde 1967 pelo Estado hebraico.

Os palestinos condenaram a nova administração de pró-anexação de Israel. “A formação de um governo israelense de anexação marca o fim da solução de dois Estados e o desmantelamento dos direitos do povo palestino”, reagiu o primeiro-ministro palestino, Mohammed Shtayyeh, pelo Twitter.

Nas eleições de 2 de março, o Likud de Netanyahu foi o vencedor com 36 representantes no Parlamento, mas não conseguiu conquistar a maioria com seus aliados de direita e partidos ultra-ortodoxos. Diante disso, os parlamentares recomendaram a Reuven Rivlin indicar Benny Gantz, ex-chefe do estado-maior do Exército, para comandar a coalizão centrista branca e azul.

Incapaz de formar uma maioria, Gantz surpreendeu ao abrir a porta a um governo de “unidade e emergência” com Benjamin Netanyahu, acusado de corrupção em uma série de casos, anulando sua promessa de não compartilhar o poder com o atual primeiro-ministro, enquanto ele não resolvesse seus problemas com a Justiça.

Parte dos israelenses esperavam esse acordo, mas outros, mesmo dentro de seu partido, censuraram Gantz por desprezar seus compromissos. As negociações entre os dois campos, porém, fracassaram por duas vezes. E já era dada como certa a volta às urnas.



"A formação de um governo israelense de anexação marca o fim da solução de dois Estados e o desmantelamento dos direitos do povo palestino"

Mohammed Shtayyeh, primeiro-ministro palestino