Com a convicção de que a Covid-19 está “sob controle” no país, o governo de Angela Merkel iniciou, ontem o desconfinamento do país, num processo que deverá ser implementado de forma lenta e delicada na Europa. Embora fortemente atingido pela pandemia, respondendo por quase dois terços das mais de 167 mil mortes registradas em todo o mundo, o continente busca formas de relançar sua economia. Dinamarca e Noruega também flexibilizaram as medidas de isolamento.
Ao deflagrar a primeira fase do plano de suspensão gradual do confinamento, porém, a chanceler Angela Merkel não escondeu seu temor de que os compatriotas relaxem ante as regras de distanciamento social adotadas para frear a pandemia do novo coronavírus. Devido ao sistema federal, cada região dispõe de uma margem de manobra e pode tomar decisões autônomas.
Nessa etapa de flexibilização, muitos estabelecimentos comerciais reabriram as portas, mas com regras. Lojas de alimentação, livrarias ou concessionárias de automóveis, entre outros, voltaram a operar com o limite para estabelecimentos que tenham no máximo 800 metros quadrados.
As concentrações de mais de duas pessoas continuam proibidas e as pessoas devem obedecer a uma distância mínima de um metro e meio nos locais públicos. Isso não evitou, porém, um grande fluxo de pessoas nas ruas de algumas cidades.
Locais culturais, bares, restaurantes, playgrounds, ou áreas esportivas, permanecerão fechados. Eventos de grandes aglomerações — como shows ou competições esportivas — continuam proibidos até pelo menos 31 de agosto.
De acordo com balanço do instituto Robert Koch, até ontem a Alemanha havia registrado 141.672 casos oficialmente documentados de coronavírus e 4.404 mortes. Na semana passada, o ministro da Saúde, Jens Spahn, assegurou que a situação está “sob controle e é administrável”.
Merkel reforçou que usar proteção é “fortemente aconselhado” e será obrigatório em todos os locais públicos a partir da próxima semana na Baviera, o land mais afetado pela epidemia. Ela enfatizou que houve uma etapa vencida, mas que é “frágil”, por isso a necessidade de atenção. A chanceler expressou irritação durante uma discussão por videoconferência com os líderes de seu partido, União Democrata Cristã (CDU).
Na reunião, ela pediu especialmente o fim do que chamou de “orgias de discussões” no país sobre um possível desconfinamento total, segundo apurou a agência de notícias France Presse com participantes. E afirmou, de acordo com essas fontes, que está “muito preocupada” com a crescente violação das regras de distanciamento social.
Segundo integrantes da CDU, Merkel lamentou que muitos falem apenas sobre a suspensão das restrições. “O que importa, agora, é a evolução da situação até 30 de abril, data em que expiram as atuais normas de proteção”, declarou, durante a teleconferência.
Além disso, Merkel destacou que, provavelmente, será necessário aguardar até 8 ou 9 de maio para saber se, além da reabertura progressiva das escolas prevista para 4 de maio, será possível suspender mais restrições.
Outros países em situação mais administrável também começaram a flexibilizar o confinamento. A Noruega começou a reabrir suas creches, o primeiro passo na suspensão lenta e gradual das restrições decretadas em meados de março. Na Dinamarca, após cinco semanas de portas fechadas, vários setores do comércio local e de serviços, como salões de beleza, massagistas, autoescolas, dentistas e outros profissionais liberais, retomaram as atividades.
Os dinamarqueses são orientados a manter o distanciamento; reuniões com mais de 10 pessoas estão proibidas; bares, restaurantes, estabelecimentos esportivos e lugares públicos estão fechados pelo menos até 10 de maio.
Países mais afetados pelo novo coronavírus, Itália, Espanha e França começam a consolidar um declínio no número de pacientes e de óbitos após semanas de alta. Os governos desses três países também estão se preparando para as primeiras medidas de desconfinamento.
Em contrapartida, no Reino Unido, a contenção, introduzida em 23 de março, foi estendida por pelo menos três semanas. O governo de Boris Johnson, que foi infectado pelo coronavírus, ainda não planeja uma saída.