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Investigações não partem do zero

 
Outra importante questão em aberto é como destruir o vírus antes que ele comece a se espalhar pelas células, infectando o organismo. Ou seja, como curar a Covid-19 em pacientes contaminados. Mais uma vez, os estudos não partem do zero. Como o vírus tem grande semelhança genética com os primos da Sars e da Mers, os cientistas aproveitam pesquisas que estavam em andamento, além de se valerem da inteligência artificial e do big data para buscar compostos desenvolvidos para outras doenças que possam também destruir o Sars-Cov-2.
 
Os resultados, até agora, não são tão animadores. O mais polêmico dos casos é o da hidroxicloroquina, medicamento para malária e artrite reumatoide que vem sendo testado em pacientes graves. A aplicação do remédio está longe de ser consenso e, em países como Brasil e Estados Unidos, saiu do campo científico para se tornar uma discussão política.
 
O problema em torno da hidroxicloroquina é que os estudos sobre sua eficácia na Covid-19 são escassos, feito com número de pessoas extremamente baixo e não foram randomizados — ou seja, não se dividiu os pacientes em grupos, sendo que um tomou a substância e outra, o placebo, para fins de comparação. Além disso, os protocolos de pesquisa com o antimalárico fazem uma combinação da hidroxicloroquina com outras classes de medicamento, o que impossibilita saber o que, de fato, melhorou os pacientes.

Dificuldades

A falta de estudos randomizados também impede a classe médica de adotar, em larga escala, um antiviral que, em pequenos ensaios, tem mostrado eficácia, com rápida recuperação dos pacientes. Embora seja considerado mais promissor que a cloroquina — o remédio foi desenvolvido para Mers e ebola —, o remdesivir também precisa ser validado por estudos mais abrangentes, dizem especialistas.
 
“O padrão ouro de um estudo clínico é o grupo de controle que recebe placebo. Mas é muito difícil realizar testes com placebo em uma doença letal”, observa Raymon L. Woolsey, codiretor da Divisão de Análises de Dados Clínicos da Universidade do Arizona, no Texas. “Talvez, o remdesivir tenha algum benefício. Mas, obviamente, nenhuma das coisas que tentamos até agora é claramente eficaz para se destacar. Infelizmente, o que temos até o momento são apenas casos anedóticos”, considera.
 
Porém, Sumit Chanda, pesquisador de imunidade e patogenia do Instituto de Descobertas Médicas de Sanford, na Flórida, observa que o prazo para testes de novas moléculas costuma ser muito maior, comparado ao que se vê agora. “Normalmente, um esforço de descoberta de medicamentos leva de cinco a 10 anos. No momento, existem vários compostos interessantes que já estão em testes clínicos”, afirma Chanda, para quem os mais promissores são o remdesivir e o favipiravir, também antiviral.
Um levantamento da Organização Mundial da Saúde (OMS) mostra a rapidez nos esforços para o desenvolvimento de remédios para Covid-19: atualmente, há 137 estudos de moléculas, sendo 38 deles já em fase de ensaios com humanos. (PO)