O presidente dos EUA, Donald Trump, mudou de tom ontem e afirmou que a decisão de retomar as atividades econômicas do país, paralisado como medida para conter o coronavírus, será tomada pelos governadores. Em reunião virtual com os líderes dos governos estaduais, Trump apresentou um programa com etapas para começar a normalizar a situação em maio, mas deixou claro que cada um dos Estados terá de tomar sua própria decisão.
Pela orientação da Casa Branca, os governadores também decidirão se o relaxamento das medidas de distanciamento social deve valer para o Estado inteiro ou apenas para regiões específicas. No plano, batizado de "Abrindo a América", o governo argumenta que parte dos Estados poderá reabrir estabelecimentos não essenciais e escolas no dia 1.º de maio, enquanto outros ainda precisarão estender a quarentena.
A reabertura sugerida pela Casa Branca exige dos Estados alguns requisitos. A diretriz básica é que os governos locais documentem durante 14 dias uma trajetória de queda sustentada dos casos de coronavírus e doenças semelhantes antes de retirarem as ordens de isolamento. Os Estados também precisam atender a critérios mínimos de capacidade hospitalar e comprovar uma estrutura de testagem da população.
Muitos Estados americanos argumentam que ainda não possuem número suficiente de testes que dê segurança para retomar as atividades econômicas. As diretrizes da Casa Branca pedem ainda a manutenção de medidas como uso de máscaras e constante higienização das mãos.
"Vocês tomarão as decisões. Nós estaremos apoiando vocês e teremos nosso país aberto e funcionando. As pessoas querem voltar a trabalhar", disse Trump aos governadores. O anúncio contrariou as expectativas de muitos analistas e indica um raro recuo do presidente americano.
No início da semana, Trump adotou um tom de confronto com os governadores ao indicar que a decisão de retomada das atividades no país caberia ao governo federal e ele, como presidente dos EUA, tinha "autoridade total" para a tomar a decisão.
Foram os Estados que deram início à imposição de ordens de isolamento nos EUA, diante da demora de Trump em encarar com gravidade a pandemia. A Casa Branca deu uma resposta tardia ao coronavírus, quando os EUA já davam sinais de que se tornariam o novo epicentro global de disseminação do vírus. Autoridades americanas já registraram até ontem 675 mil casos confirmados e 35 mil mortes - mais do que qualquer outro país.
Na lógica dos governadores, assim como coube aos Estados a ordem de isolamento, caberia também a eles decidir o momento da retomada. Na manhã de ontem, se antecipando à reunião com Trump, o governador de Nova York, Andrew Cuomo, coordenado com outros seis Estados, anunciou que a quarentena seria estendida no mínimo até 15 de maio.
O temor dos líderes de governos estaduais era de que Trump pressionasse por um movimento de retomada da economia antes dos sinais de especialistas de que o fim do isolamento era seguro. No passado, o presidente já deu sinais de descontentamento com a paralisação do país, que há um mês está com restaurantes, escolas e empresas de portas fechadas.
Cerca de 22 milhões de americanos se registraram como desempregados nas últimas quatro semanas. A grande plataforma eleitoral de Trump, que busca a reeleição em novembro, era justamente o sucesso econômico dos EUA antes da pandemia.